27 de dez. de 2010

uma biografia em tempo real


Nesse feriado de Natal, calorão em Porto Alegre, o sábado à tarde convidava para um cineminha. O filme foi escolhido mais pelo horário do que pelo título, mas não me arrependi: A Rede Social.

O legal desse filme é que ele retrata o hoje. Não porque tem efeitos especiais e usa os mais modernos recursos da computação gráfica - aliás, não usa absolutamente nenhum. A história é um retrato dessa geração frenética e online da qual fazemos parte, da cada vez maior virtualização das relações. Mostra como nasce uma grande ideia e que ela pode não ser tão original quanto parece - é uma transformação de outras ideias, de coisas que já existiam ou que precisavam de um toque de genialidade para dar certo. O inventor do Facebook é uma mente privilegiada, não há dúvida. Mas teve condutas pra lá de questionáveis. E tudo porque queria ser popular na faculdade, o que me leva a pensar que o que move guris e gurias a realizarem empreendimentos louváveis ou cometerem besteiras incalculáveis é o mesmo em qualquer lugar do mundo e em qualquer época: reconhecimento. Ou, para simplificar: chamar a atenção da(o) gostosa(o) da escola. Mais simples ainda: se dar bem.

O interessante é que Mark Zuckerberg não pega ninguém o filme inteiro. A história começa com ele levando um fora da namorada - num diálogo que tonteia qualquer um - e termina com ele mandando um convite para ela via Facebook. O lance deles ficou mal-resolvido - será que Erica Albright deu uma chance ao garoto? E será que o zilionário Mark consegue se dar bem com as garotas e ser um ser humano mais sociável? Essas perguntas o filme não chega a responder, porque são coisas que estão acontecendo nesse exato momento.

Em tempos de biografias lançadas por celebridades que não atingiram duas décadas de vida, A Rede Social tem o mérito de contar uma história relevante para bem mais do que os 500 milhões de usuários do Facebook - e que ainda está bem longe de terminar.

17 de dez. de 2010

homem que xinga mulher

Hoje me peguei tuitando uma frase que me tomou de assalto: 

Homem xinga mulher de vagabunda e mal-comida. O que está por trás disso: ele come mal a mulher dele e ela está dando pra outro. Certo.

Duas coisas me levaram a escrever isso. A primeira é que fui vítima, há alguns dias, de tais xingamentos. A outra é que li um post do Alex Castro que não permite a ninguém ficar em cima do muro a respeito de temas polêmicos como machismo e feminismo.

Vou tentar resumir a história: eu estava prestes a atravessar uma rua, de mão única e pista dupla, no bairro Jardim Botânico, em Porto Alegre. Havia uma faixa de pedestres naquele ponto, mas sem semáforo. Eu estava ainda na calçada e um motorista, querendo ser gentil ou simplesmente respeitar a faixa, parou para eu passar. Mas lá atrás vinha um carro numa velocidade um pouco alta e eu, cautelosa, esperei para ter certeza de que poderia cruzar a rua com segurança. O motorista que vinha correndo se deu conta do outro carro parado e decidiu parar também, abruptamente. O problema é que o que vinha logo atrás dele não conseguiu frear a tempo e bateu.

Tudo aconteceu em segundos. Eu me mantive na calçada, aguardando o desfecho - que deveria ter sido apenas poder atravessar a rua, mas não foi. O carro que parou primeiro não foi afetado e o motorista resolveu escapar dali rapidinho. Eu, depois do susto, saí andando, meio nervosa. Não gostaria que nada daquilo tivesse acontecido.

Mas o motorista do carro que sofreu a batida achou que alguém deveria levar a culpa pelos estragos. E desatou a proferir os mais inacreditáveis impropérios. Começou perguntando "vai pagar o conserto, vagabunda?" e terminou com "eu devia ter te atropelado, vadia mal-comida, o que te falta é um pau bem grosso, sua vagabunda". 

Pois é.

Eu não tenho sangue de barata e rodo a baiana sempre que acho necessário, mas dessa vez decidi cair fora sem olhar pra trás. Se esse cara era capaz de me xingar assim, bem possível que tivesse uma arma no porta-luvas ou que me desse um soco na cara sem o menor constrangimento. Eu é que não ia me arriscar. O máximo que consegui foi olhar pra ele e dizer "ah tá, era só o que me faltava". Mas vendo os olhos cheios de ódio do tal sujeito, tomei meu caminho.

Poderia esse post ser sobre a segurança no trânsito, faixa de pedestres e tal. Mas o mais incrível nessa história, pra mim, não foi o incidente em si, mas o repertório do cara. Não foi a primeira vez que ouvi um homem ofender uma mulher desconhecida dessa maneira. Eu mesma já fui vítima em outras ocasiões. Lembro-me especialmente de uma - e que também foi no trânsito, por que será? - em que eu não deixei entrar na minha frente (dessa vez eu estava dirigindo) um motorista que estava na contramão dando uma de malandrinho para escapar de um congestionamento. Claro que eu não teria feito isso se o cara estivesse prestes a ser esmagado por um Scania, mas não era o caso. Esse senhor colocou o carro dele bem ao lado do meu, abriu o vidro e me chamou de "bocetuda". Dependendo do contexto isso até poderia ser um elogio de gosto duvidoso, mas não, era um xingamento.

Então eu fiquei a pensar por que certos homens gostam de ofender as mulheres acusando-as de vagabundas e afirmando que suas vidas sexuais não são boas. Será que eles acham que isso é o que de mais terrível pode acontecer a uma mulher? Ou será que eles estão apenas projetando nesse insulto algo que os incomoda, talvez inconscientemente: eles não são capazes de dar prazer às suas próprias mulheres, fazem sexo como se fossem máquinas de ejacular, e lá no fundo sabem que elas são insatisfeitas e que, quem sabe (tomara!), estão considerando seriamente a hipótese de colocar-lhes um belo e merecido par de chifres?

Não quero generalizar, até porque não são todos os homens que xingam mulheres dessa forma, mas um cara que diz uma coisa dessas no calor de uma discussão ou de uma situação de estresse deve ter algum problema. Com tantas outras coisas para dizer – sem contar a opção de não dizer nada, porque ele não estava com a razão –, ele escolhe justamente isso.

Por outro lado, dia desses, em conversa com duas amigas, uma delas contou que xingou um motorista (ó o trânsito de novo...) que buzinou quando o sinal tinha recém aberto, o apressadinho. E ela o chamou de "piça curta"! Poderíamos deduzir, usando a mesma lógica, que minha amiga disse tal coisa porque está descontente com o tamanho do pênis de seu namorado, marido, comedor ou o que for? Difícil. É claro que ela não sabia o tamanho do membro do cara, mas certos comportamentos tipicamente masculinos, como dirigir em alta velocidade, fazer manobras perigosas, querer estar sempre na frente e ser esquentado e brigão, são comumente associados a uma necessidade de compensação. O cara pode até nem ter o pau pequeno, mas a pergunta que fica é: por que ele precisa tanto se autoafirmar com atitudes violentas, arriscadas, grosseiras? Alguma frustração ele deve ter.

Daí vem o Alex Castro falar sobre machismo e feminismo e eu concluo que o cara que tenta atingir a dignidade de uma mulher dizendo que ela é puta e mal-comida ainda não conseguiu digerir o fato de que hoje uma mulher pode dar para quem quiser e quando bem entender. Há! Esse é o ponto. Ele é um machista, com toda a certeza. Pois ele está vendo que as mulheres finalmente conquistaram os tais direitos iguais reivindicados pelo feminismo e entre eles está ser dona do próprio corpo e fazer com ele o que bem entender. Mas ele não aceita isso. Ele acha que essa mulher emancipada é, por definição, vagabunda. Então é óbvio que ele não vai assumir a culpa – na frente de outros homens! – pela barbeiragem na qual se envolveu se ele pode culpar a mulher que está na calçada esperando para atravessar a rua. Ele parte do princípio de que essa mulher – ou de que toda mulher – é uma vagabunda mal-comida, seja ela quem for. Ele quer atingir o gênero inteiro. Queria saber o que ele teria dito se um homem estivesse na calçada. Bom, mas aí talvez o primeiro motorista não tivesse parado, porque ele quis ser educado com uma mulher... vejam só, quanta contradição. Gentileza e estupidez no mesmo episódio.

Esse é sem dúvida um assunto para psicanalistas, antropólogos, sociólogos. Mas também são situações cotidianas com as quais nos deparamos às vezes e que nos fazem pensar e questionar “o que leva uma pessoa a se portar assim”. Eu ainda acho que um cara desses tem algum problema sério em casa que não está conseguindo resolver. Ele, com o machismo dele, não é capaz de enxergar um palmo na frente do nariz e muito menos o que está prestes a crescer entre seus cabelos – se é que já não cresceu.

11 de dez. de 2010

eu tenho medo do mesmo

Descobri que é preciso mudar sempre. O mesmo é uma chatice - sim, eu tenho medo do mesmo. É preciso ter planos de curto e longo prazo. É preciso vislumbrar no horizonte algo diferente, alguma coisa que mexa com os alicerces da vida, sejam eles firmes ou molengas. O igual não tem graça. A mudança tem. É ela que dá o frio na barriga, o arrepio na espinha. E bom é viver assim, com aquele receio do que virá, com aquela sensação de "será que vai dar certo", com o não saber, o não conhecer, com o pisar em território desconhecido. Não é a mesma coisa que ser inconsequente e viver como se não houvesse amanhã. Ao contrário: me refiro a saber o que se quer, ou pelo menos desconfiar, e ir em busca, correr atrás, e fazer a transformação. Talvez seja um engano, mas como saber sem tentar? Sim, sim, um clichê e tanto. Imenso. Só vamos saber se fizermos, se tentarmos - ouvimos isso desde sempre. De tão batido, perdeu o sentido. E acabamos não fazendo nada, mesmo. Ou fazendo o mínimo. Desistimos por achar que não somos capazes, ou que é uma grande bobagem, um sonho que passou, que não temos mais idade pra isso, ou travamos diante do que os outros podem pensar... Assim o suposto clichê fica restrito às telas do cinema, às páginas dos livros, que parecem nos dizer algo, nos puxar ou empurrar, nos alertar... Muitas vezes, não passa disso e vira frustração.

Fazer o que se tem vontade, dentro ou além de nossas possibilidades, impor aos outros os nossos desejos e não deixar que nos impeçam ou nos dissuadam, e não permitir que a falta de mudança nos torne inertes e acomodados. Eu tenho medo do mesmo, e quero que ele vá para bem longe daqui. Para que meu amanhã não seja igual a hoje nem a ontem. Depende de mim. Eis minha mensagem de fim de ano. Que venha 2011.

11 de nov. de 2010

sobre como os beatles entraram na minha vida (ou pretexto para falar do show do paul)

Primeiro ouvi na Ipanema FM que tinha dado no ClicRBS que os empresários de Paul McCartney estariam em negociações para trazê-lo a Porto Alegre, aproveitando a passagem já confirmada por Buenos Aires. Pensei: “Humpf, que esperança”, e fui me ocupar com qualquer outra coisa. Dias depois, a conversa parecia um pouco mais séria. Na Itapema FM, deu que os caras estavam na cidade para visitar os estádios e hotéis e verificar se a estrutura era boa o suficiente para a grandiosidade do artista – não estou sendo irônica. Aí eu disse: “Humm, quantos dias para eles darem o veredicto negativo?”.

Pois é, mordi a língua. Logo o clã Sirotsky se reuniria com os tais empresários para assinar o contrato. Até a data já estava definida: 7 de novembro. Pasmei: “Uau, Paul McCartney em Porto Alegre, unbelievable”. Mas o segundo pensamento foi: “Decerto ele vai tocar só músicas da carreira solo”. Mordi a língua novamente: do setlist que ele vinha apresentando na Up and Coming Tour mundo afora, metade era Beatles. Quando finalmente divulgaram os preços dos ingressos, que nem eram tão absurdos quanto eu tinha imaginado, e que a pré-venda seria para assinantes de jornais da RBS – eu tinha feito uma assinatura de Zero Hora duas semanas antes –, só aí eu tive certeza de que eu iria ao show do Paul McCartney.

Mas a ficha custou a cair. Durante os cerca de 30 dias entre a compra do ingresso e o show, não tive frio na barriga, não fiquei nervosa, permaneci praticamente imune à histeria coletiva que se instalou em Porto Alegre, em grande parte embalada pela mídia massiva e até excessiva da RBS sobre o assunto (acho que exageraram na dose, mas, tratando-se de Sir Paul, é perfeitamente compreensível e perdoável). O máximo que fiz foi ouvir o mais que pude um CD gravado com as músicas do provável setlist que havia sido divulgado (e que se confirmaria totalmente, inclusive a ordem foi a mesma ), já que pouco conheço a carreira solo do moço e detesto ficar boiando em shows.

Tudo já se disse sobre o show e imagino que quem não foi está de saco cheio dessa conversa. Eu estaria. Mas sim, foi mesmo tudo isso. 55 mil pessoas não poderiam ser cúmplices de uma mentira, não teríamos como combinar “vamos dizer pra todo mundo que foi ótimo só pra tripudiar”. Unanimidade é coisa rara e dizem até que é burra, mas parece que o show do Paul McCartney foi para o topo da lista de exceções da velha máxima. Porque foi bom pra caralho. Beirou a perfeição. Deixou todos boquiabertos, bateu fundo no coração e na alma de quem estava lá, fez lágrimas escorrerem, sentimentos aflorarem... e aí já escorreguei pra pieguice e dela acho que não saio nunca mais quando se tratar do show do Paul McCartney.

Cada um tem seus motivos paga gostar de Beatles, do Paul, do John e até mesmo do George e do Ringo, que sempre me parecem meio esquecidos. Cada um tem uma história pra contar. A minha é assim: meu pai é professor de inglês. Ele dava aula em escolas públicas de Guaíba, onde morávamos, para os antigos primeiro e segundo graus. Uma das marcas registradas dele eram as musiquinhas, principalmente nas turmas infantis. Tinha de tudo, de Little Indian a My Bonnie Lies Over The Ocean. E tinha Beatles. Especialmente Love Me Do e Hello Good Bye, com seus versos repetitivos e fáceis, mas às vezes também Hey Jude e Help, bem mais complexas, e até Yesterday, se não me falha a memória. Ele gravava fitas K7 (oi?) a partir dos álbuns duplos de vinil (oi?) de capas azul e vermelha, que eram coletâneas do que de melhor o grupo fez ao longo de toda a carreira – o vermelho era da fase iê iê iê, e o azul, da psicodélica, da mais rock n’ roll.

Fui aluna do meu pai na quinta e na sétima série, mas antes disso as musiquinhas que ele dava em aula e que frequentemente tocavam na minha casa chamaram minha atenção. Sempre gostei de cantar, e quando gostava de uma música, não sossegava enquanto não decorava a letra, fosse em português ou em inglês. Na época – década de oitenta, tá? –, para conseguir as letras era preciso comprar o disco para ter o encarte ou então gravar da rádio e tirar de ouvido, coisa que muito fiz. Mas com Beatles eu tinha aquele tesouro do meu pai, os álbuns duplos, e certo dia decidi desbravá-los. Eu não sabia nada sobre o fenômeno que eles haviam sido, conhecia apenas meia dúzia de músicas, mas por algum motivo eu desconfiei que ali tinha bem mais do que Love Me Do e Hello Good Bye. Não demorou para eu constatar que sim, tinha muito, muito mais. E como até hoje, quando gosto de um disco, de uma banda, de um cantor ou cantora, ouço até cansar, eu devo ter gasto algumas agulhas escutando aqueles discos no três em um.

Logo descobri que os encartes dos álbuns, que continham as letras das músicas, estavam se deteriorando com tanto uso. Foi assim que, por vários dias, talvez semanas, me entretive ouvindo os discos e restaurando cuidadosamente os encartes. Alguns pedaços das letras tinham se rasgado e eu completava no papel, escrevendo a mão o que tirava de ouvido. Desse jeito acabei decorando as músicas e até mesmo as melodias, as notas, os riffs de guitarra, as interjeições, todos os detalhes de quase todas as canções. Até hoje acho que isso contribuiu muitíssimo para o aprimoramento da minha pronúncia no inglês, que é bem boa, modéstia às favas.

E foi assim que os Beatles entraram na minha vida. Nada pomposo, uma história singela, até. Foi unicamente a música deles que me cativou, e não o fato de eles terem sido os maiores de todos os tempos ou coisa do tipo. Nunca fui beatlemaníaca, estou mais para admiradora, alguém que curte, que se identifica, se emociona, se arrepia e se diverte com eles. Os Beatles me fazem lembrar minha infância e a sorte que tive de ter aqueles benditos álbuns dentro de casa. Mais tarde eu pude comprar vários CDs e continuar curtindo os Beatles, agora sim sabendo melhor quem foram aqueles quatro garotos, a importância que tiveram para toda uma geração e que continuam tendo, vide a enorme quantidade de jovenzinhos e de velhinhos no show do último domingo.

Para mim, o fato de Paul McCartney estar vivo e super na ativa era uma coisa, confesso, meio distante, meio, sei lá, nunca tinha parado para pensar no assunto. Vez ou outra lia notícias sobre ele, mas não tinha muita noção do que significava um beatle ter sobrevivido ao tempo e aos próprios Beatles para construir uma carreira irretocável como foi a dele, sem nunca decair, e aos 68 anos ser capaz de fazer um show como o que eu vi no Beira-Rio. A sensação de estar no mesmo ambiente de Paul McCartney, mesmo a muitos metros de distância, foi estranha e impactante. Fui ao show da Madonna em São Paulo e saí de lá com uma lista enorme de reclamações, assisti ao Eric Clapton no Olímpico e foi uma das coisas mais monótonas que já presenciei, e até mesmo os dois shows do meu ídolo-mor, Chico Buarque, vão para a lona perto do que fez Paul, e tudo isso considerando as diferenças óbvias de estilo. Como seria bom se todos os artistas – e veja que poucos podem sequer ser comparados a Paul McCartney – tivessem o entusiasmo, a simpatia, o bom humor, o fôlego que ele teve, a preocupação com a perfeição e em proporcionar o melhor espetáculo possível, de honrar o amor do público e fazer valer cada centavo investido. É um exemplo para toda a classe artística, goste ou não de Beatles e de Paul McCartney. Não há como ignorar.

Vou parar por aqui, porque até eu já estou me achando uma chata. O que queria mesmo era contar a maneira despretensiosa que os Beatles entraram na minha vida, e acabei falando um monte sobre o show. Agora me resta guardar na memória esse momento que foi mágico e... tá, chega.

9 de nov. de 2010

paul, I can't hardly express

Arram, eu fui.

Por enquanto, sigo sem palavras. Quero escrever, expressar, mas é tão difícil. Vai sair, vai sair. Só tenho que conseguir lembrar do show sem ficar com os olhos marejados.

(eu sei, eu sei que o título do post é de uma música de John, mas ele não deve se incomodar com o empréstimo)









Paulinha, Dani e eu :-)

9 de out. de 2010

batendo o cartão-ponto e tirando o mofo

Estou de malas prontas para o Rio de Janeiro. O voo sai em menos de duas horas. Estou em casa ainda, terminando as arrumações, vou antes almoçar, e então ir para o aeroporto. Resolvi sentar aqui rapidinho pra escrivinhar qualquer coisa. Há anos, pelo menos uma vez por ano, bato o cartão-ponto no Rio de Janeiro. Nem que seja um final de semana, um feriadinho qualquer. Sempre volto bem de lá. Espero dessa vez voltar muito bem. Arejada. Vou lá tirar o mofo, sentir o ar da primavera que ainda não deu bem as caras aqui nos pampas. A previsão promete tempo parcialmente nublado. O que, do sudeste pra cima, normalmente significa muito sol e nuvens dando uma trégua de vez em quando. Pra mim, não tem clima melhor. A minha brancura é tanta, mas tanta, que não sei se vou ter coragem de ir à praia. Vou ter que comprar um protetor fator 450. Se existisse. Vou dar uma caminhada na areia, claro. Um mergulho também, não resisto, amo entrar no mar. O biquini está na mala, assim como duas cangas. E as havaianas, as rasteirinhas, as blusinhas, os vestidinhos e as sainhas. Tudo tirado lá de cima do armário, porque ainda não deu pra fazer a tradicional troca, os blusões e casacos permanecem ao alcance da mão, enquanto as roupas de meia-estação e de verão, só subindo no mocho. Dessa vez, vou conhecer Niterói e Vila Isabel, dois passeios diferentes, novidades. E vamos à Lapa, claro. E conhecer o Bip Bip, famoso boteco de Copacabana com três mesas e nenhum garçom, mas com um clima espetacular, dizem. Depois, se der vontade, conto tudo. Para meus dezessete leitores. Bom feriado.

29 de set. de 2010

sou uma espécie em extinção

Deu no Diário Gaúcho. E pensar que o Hospital Nossa Senhora do Livramento funcionava há 33 anos. Sim, porque eu nasci lá. É deprimente ser uma espécie em extinção. 

Guaibenses estão em extinção

Sem o centro obstétrico da cidade, fechado há mais de um ano, Guaíba e quatro municípios da região estão transferindo gestantes para Porto Alegre

Aline Custódio  |  aline.custodio@diariogaucho.com.br
 
Na falta de uma instituição especializada, cerca de mil bebês deixaram de nascer em Guaíba, via Sistema Único de Saúde (Sus), nos últimos 13 meses. Interditado pela Justiça de Guaíba desde agosto de 2009, o único hospital que oferecia o serviço a uma população de 152 mil pessoas de cinco municípios, está prestes a ser fechado.

Quem confirma a informação é o próprio diretor do Hospital Nossa Senhora do Livramento, Arno Berger, nomeado pela Justiça no ano passado.

– O Livramento deverá manter as portas abertas somente até o Pronto-Atendimento (PA) 24 Horas de Guaíba se tornar o novo hospital da cidade – garante.

Desde a interdição, motivada por dívidas que ultrapassam R$ 16 milhões, a instituição de 66 anos deixou de atender casos obstétricos e cirúrgicos. Hoje, mantém apenas as internações clínicas – pediátrica e adulta – e uma equipe de saúde mental. Por dia, a média de pacientes internados não passa de 40.

Arno ainda reforça que, com uma receita mensal em torno de R$ 187 mil, não há como deixar em dia os salários dos funcionários.

– Nossa meta é pagar o que se gasta, mas os salários sempre ficam com um atraso entre 30 e 60 dias – afirma.

Maternidade só em 2011


Considerado como prioridade para a Secretaria Municipal de Saúde, o novo centro obstétrico funcionará na mesma área onde hoje já funciona o PA 24 horas da cidade.

A secretária municipal de Saúde, Liliana Altmayer, confirma que duas alas do PA serão reformadas para ganhar a maternidade, o bloco cirúrgico, a cozinha, a lavanderia e o centro obstétrico.

A prefeitura já tem R$ 1,5 milhão, procedente de repasses do Estado e do Conselho Regional de Desenvolvimento (Corede), reservados para iniciar a obra. O projeto arquitetônico está na avaliação final. As próximas fases são o levantamento do orçamento e a abertura da licitação (escolha da empresa que fará a obra).

Liliana acredita que o novo hospital estará concluído até o final do primeiro semestre de 2011.

– Nossa prioridade é a construção do centro obstétrico e da maternidade. Enquanto isso não ocorre, a prefeitura disponibiliza ambulância para as gestantes que estiverem em trabalho de parto – ressalta a secretária.

"Quero ter minha filha dentro do hospital"


Enquanto o novo hospital não sai do papel, as mais de 70 crianças que deveriam nascer por mês em Guaíba acabam vindo ao mundo em Porto Alegre. Será o caso da segunda filha da dona de casa Juliana Duarte Alves, 27 anos, moradora do Bairro Santa Rita.

Grávida de 35 semanas, Juliana faz o pré-natal no posto de saúde do Bairro Cohab, e pretendia ter o bebê na cidade em que mora e onde deu à luz a primeira filha, de três anos. Porém, sem alternativas, ela já pensa em outras maternidades.

Para se ter uma ideia da importância de uma maternidade na região, só no posto de saúde do Bairro Cohab, cerca de 18 novas gestantes chegam mensalmente ao local.

A falta de atendimento especializado causou problemas para Juliana, na semana passada. Com dores, ela precisou chamar o pai, que estava em Porto Alegre, para levá-la a um hospital na Capital.

– Me sinto insegura e nervosa. Gostaria que a médica, que me acompanhou durante todo o pré-natal, fizesse o meu parto. Até pedi para ela ir junto, mas será impossível – lamenta.

Juliana, inclusive, tem economizado para pagar o transporte até Porto Alegre no dia do nascimento da filha.

– Só rezo para que as dores cheguem durante o dia e fora do horário de fechamento da ponte (içamento da ponte sobre o Guaíba). Quero ter a minha filha dentro do hospital – desabafa a dona de casa.

Instituição era referência

Pelo menos outros quatro municípios tinham como referência o Hospital Nossa Senhora do Livramento, em Guaíba, na área obstétrica. Agora, as gestantes de Barra do Ribeiro, Mariana Pimentel, Sertão Santana e Eldorado do Sul realizam o pré-natal na própria cidade, mas só têm a Capital como alternativa para o parto via Sus. Em Sertão Santana e Barra do Ribeiro, as prefeituras disponibilizam transporte para os casos mais graves.

Números
Hospital Nossa Senhora do Livramento
Receita mensal
- R$ 87,5 mil – ambulatório e internação pelo Sus
- R$ 60 mil – convênio com a prefeitura
- R$ 40 mil – parcela mensal repassada pelo Estado (Fundo Estadual de Saúde), que será finalizada em janeiro de 2011

27 de set. de 2010

a parada das vacas


Boa oportunidade de fazer as pazes com Porto Alegre depois do post indignado sobre nosso belo rio escondido: a partir do dia 8 de outubro vai ter Cow Parade na cidade. A-do-ro.

Vi as vaquinhas pintadas em Buenos Aires na primeira vez em que lá estive, em 2006. Foi o máximo. Tirei várias fotos, como essa aí de cima. Que sacada teve quem inventou esse negócio. Porque é definitivamente a coisa mais inusitada que pode acontecer com um cidadão comum: andar pela rua e topar com uma vaca colorida, enfeitada, diferente, linda ou nem tanto, depende do gosto e do olhar de cada um.

Tem gente que não entende, fica se perguntando "qual é a moral", "pra que serve". Ora. Acho engraçado. E por acaso é para servir para alguma coisa? O melhor é não tentar entender. A Cow Parade, na minha maneira de ver, é uma ode à (in)utilidade da arte: as vaquinhas estão lá para provocar os sentidos, aguçar a curiosidade, fazer brilhar os olhos das crianças, fazer rir os velhinhos, obrigar os transeuntes apressados a parar e olhar, colocar tempero e cor em nossa rotina tão absurdamente mergulhada na mesmice. As vacas são esculturas, são obras de arte misturadas à sujeira urbana, à feiura ou à beleza da cidade, visíveis a toda e qualquer pessoa, não precisa entrar em museu, comprar ingresso, muito menos entender de arte para apreciar. Gosto da arte acessível. Algumas vacas da Cow Parade até podem trazer certo rebuscamento nas propostas dos artistas, podem conter mensagens subliminares, ter um cunho de protesto ou alertas para a desigualdade social ou whatever. O que importa é que, independente da leitura de cada um, elas atingem o propósito de instigar, de entreter e de deixar a vida da gente mais leve.

Porto Alegre será bem mais interessante nos próximos três meses.

Mais infos em http://www.cowparade.com.br/poa/.

15 de set. de 2010

maldita seja

Maldita seja a cidade que esconde de seu povo o que tem de mais bonito. Às vezes eu não entendo porque não consigo ser apaixonada por Porto Alegre. Gosto, mas não amo. Falta alguma coisa. Não é culpa da cidade. Não sei bem de quem é  a culpa. E acho que, a essas alturas, nem interessa mais. O que interessa é que ele está ali. Sempre esteve. Mas, por algum motivo, não o vemos, pelo menos não da maneira como seria possível, como seria a ideal. Porto Alegre poderia ter uma orla. Ciclovias, calçadões. Nós poderíamos conviver diariamente com o Rio Guaíba. Assim, de pertinho, intimamente, chegar perto dele. Entrar nele talvez seja pedir demais (será?), mas não se trata disso.
Hoje, lá pelas 17h30, vindo de carro pela freeway, já próxima da ponte do Guaíba, eu vi o rio. Ele tinha uma cor prata indescritível, a paisagem era magnífica, mas eu só pude admirá-lo por uns poucos segundos, arriscando provocar um acidente, pois estava dirigindo. Nesse momento me bateu uma indignação. Fiquei pensando que cada vez que vejo o rio é como se fosse a primeira vez, a beleza dele me estarrece e ao mesmo tempo me causa estranheza, esse rio pertence à minha cidade, mas não pertence às pessoas, não me pertence.
Espero sinceramente que o governador do estado e o prefeito de Porto Alegre que forem eleitos esse ano FAÇAM finalmente alguma coisa e DEVOLVAM aos porto-alegrenses o Rio Guaíba. Usem a Copa do Mundo de Futebol como desculpa, ou como motivação, não importa. Mas façam acontecer e me deem motivos para amar Porto Alegre, para ter orgulho de Porto Alegre, para eu poder dizer a um amigo de fora "Vê que linda a cidade que escolhi pra morar?", para eu poder dizer BENDITA SEJA Porto Alegre, a cidade onde eu vivo, pois ela tem um rio que é de todos, um rio que é meu.

12 de set. de 2010

insignificante, tudo

e eu me preocupando com a fatura do cartão de crédito no dia quinze e com aquela roupa que vi na vitrine mas que é muito cara e nem tenho onde usar e que filme vou tirar na locadora nesse final de semana chuvoso e será que vai fazer sol essa semana porque afinal a primavera vem vindo e daqui a menos de um mês vou ao Rio de Janeiro mas se o tempo não for bom não vou poder fazer as coisas que planejei então eu rezo para que faça calor e sol e essas coisas que deixam o Rio mais bonito do que já é porque o Rio é bonito até em dia de terremoto só que não tem terremoto no Rio nem no Brasil pelo menos é o que dizem mas na verdade parece que teve uns tremores outro dia não sei onde mas eu não senti nada aqui em Porto Alegre essa cidade que agora está tomada por cavaletes com propaganda de políticos que querem se eleger e principalmente se reeleger porque eles não sabem fazer outra coisa na vida é o que eu acho detesto eleição pra deputado porque são sempre as mesmas caras mas afinal o que importa nada importa é tudo uma grande bobagem como eu aqui agora fazendo backup dos arquivos do computador porque se der pau no computador eu vou ter uma cópia dos meus arquivos eu fico achando que não posso viver sem eles que se eu perder meus arquivos vai ser a mesma coisa que perder um braço ou uma perna mas eu sei que se eu perder meus arquivos eu vou continuar vivendo e tudo vai ser igual como sempre foi porque ninguém morre só porque perdeu alguma coisa material mesmo que seja virtual como são os arquivos de computador mas afinal só vemos que nada dessa merda toda importa quando perdemos alguém importante na nossa vida principalmente quando é a mais importante de todas e de repente essa pessoa não está mais aqui para nos confortar nem sorrir nem perguntar como foi nosso dia não deve existir nada nada nada mais dolorido que isso e é por isso que hoje eu acho que nada mais importa e que tudo é tão pequeno mas tão pequeno que eu fico me sentindo um grãozinho de areia insignificante

para Paulinha

25 de ago. de 2010

em respeito à memória de renato russo

Ontem o Multishow fez o desfavor de "homenagear" o Legião Urbana colocando o Vitor e Léo (quem?) e a Claudia Leitte (ã?) cantando a música Pais e Filhos. Putaquemepariu. Foi um dos shows do Prêmio Multishow de Música Brasileira, que, aliás, já teve dias melhores. Mas enfim, que o Multishow abra espaço para o Luan Santana (hein?) e o Fiuk (o mundo se contentaria só com um Fábio Junior, nénão?), eu até entendo, agora fazer isso com o Renato Russo, avápá... vergonha alheia, vergonha, vergonha.
Pais e Filhos foi e talvez ainda seja o maior hino adolescente da história. Eu ouvia essa música na minha adolescência e ela falava diretamente comigo, era feita pra mim. Pra mim e pra todos os que tinham a minha idade no Brasil inteiro. O Legião e o Renato Russo tinham isso, falavam a língua do público. Fizeram coisas maravilhosas. Tem gente que acha depressivo. Eu acho autêntico. Visceral. Legião é rock, é poesia, é crítica social, é soco no estômago. Que falta faz tudo isso na música brasileira de hoje.
Agora mesmo resolvi ouvir o CD Legião Urbana V, aquele da capa branca com letras douradas. Tenho ele até hoje. Está escrito no encarte: 17/10/1992. Dezoito anos. Uau... Provavelmente ganhei de aniversário, não lembro. Mas lembro que o escutei infinitas vezes. Ainda sei as letras decor. Até mesmo a da faixa número 2, Metal Contra as Nuvens, que tem mais de 11 minutos de duração. Cantei ela inteirinha no show que fui no Gigantinho, em 1994. Na época tive a nítida sensação de ser a única pessoa que sabia cantar aquela música. Acho que poucos tinham paciência de ouvi-la. Eu tinha. Sabia até mesmo as canções instrumentais, acompanhava com a mente cada nota, cada acorde. Eu era assim na adolescência, ouvia um mesmo disco até furar. Mas não furou, tanto é que esse me acompanha há longos dezoito anos.
Esse disco, o Wikipedia acaba de me contar, reflete a crise econômica causada pelo plano Collor e a dependência química de Renato. Interessante saber disso agora. Porque na época eu não me dava conta. Mas me emocionava, mesmo não entendendo bem o que as letras significavam. Não são letras fáceis. Duas delas me chamaram particular atenção hoje: a música-para-suicídio Vento no Litoral e a meiga, alto astral, romântica e bem-humorada O Mundo Anda Tão Complicado. Uma contraposição perfeita. Me fizeram ir às lágrimas indagorinha.
Renato Russo morreu uns anos depois. Não lembro bem o que senti quando soube. Mas foi estranho porque menos de dois anos antes eu o tinha visto muito de perto, nesse show do Gigantinho. Um show histórico, aliás. Histórico pra banda e pra mim também. Fomos eu e o Sandro, meu amigo, meu parceiro de momentos inesquecíveis como esse que foi ver Legião Urbana em Porto Alegre. Algumas pessoas viram Cazuza, outras viram Elis Regina, outras viram Cássia Eller. Eu vi o Renato Russo. Ídolo.
Pois tudo isso para dizer que as músicas do Legião continuam tocando adolescentes e adultos até hoje, mas se o Multishow insistir em colocá-las na boca de artistas de quinta categoria (e eu acho que "artistas de quinta categoria" é até elogio para os charlatões em questão), vai contribuir para que o legado de uma das maiores bandas brasileiras de todos os tempos seja confundido com música de quinta também. Ora, faça-me o favor, Multishow!

7 de ago. de 2010

se eu morasse em Amsterdam

Se eu morasse em Amsterdam
Teria uma bicicleta preta
E andaria de motoca
Só nos dias de dondoca

Se eu morasse em Amsterdam
Falaria inglês com fluência
E conversaria na língua pátria
Só com amigos de infância

Se eu morasse em Amsterdam
Viveria à beira de um canal
Haveria flores em minha porta
Onde esperaria o jornal

Se eu morasse em Amsterdam
Nunca daria chilique
Se visse o povo na rua
Muito louco de haxixe

Se eu morasse em Amsterdam
Talvez me chamasse Ana
E teria uma grande amiga
Chamada Maria Joana

Se eu morasse em Amsterdam
Seria amiga da polícia
E frequentaria a zona
Mas não me interprete com malícia!

(Fernanda Vier em duvidoso momento de inspiração poética)

6 de ago. de 2010

sobre ler de pijamas durante a semifinal da libertadores

Antes do final do primeiro tempo, já 1x0 para os são-paulinos, resolvi ir pra cama, não para dormir, mas para ler. Em dia de jogo importante passando na TV aberta, me senti uma pessoa única, no sentido de ser a única pessoa do mundo (ou de Porto Alegre e de São Paulo) a estar na cama de pijamas lendo um livro. Quantos estariam na mesma situação que eu? Chuto que bem poucos. Peguei o calhamaço de contos brasileiros e reli um da Clarice Lispector. É sempre bom reler Clarice, pra ter certeza.

Quando começou o segundo tempo, fiquei tentando adivinhar o que se passava. Não é difícil, basta interpretar os sons que vêm da rua. Um vizinho gritou desafinada e desesperadamente, e seus gritos foram seguidos de buzinas, vuvuzelas e muitos outros gritos. Gol do Inter. Instantes depois, não foi tão fácil de entender. Mais gritos, o desespero do mesmo vizinho, mas era um desespero diferente. Achei que pudesse ser rescaldo do primeiro gol, mas eis que o Fredo se abala da sala ao quarto para me transmitir as boas-novas: 2x1 para o São Paulo. Não era suficiente, mas bastava um golzito para tirar os colorados da final da Libertadores. Comemorei timidamente de baixo dos edredons e disse então tá, acho que vai rolar.

Silêncio. Olhos pesados. Guardei o livro, desliguei o abajur e deixei o sono me levar. Não demorou para o Fredo vir juntar-se a mim. E aí?, perguntei, semidormindo. Ficou em 2x1. Tsc, tsc, tsc. São Paulo incompetente. Sempre perde pros gaúchos, afinal. Boa noite.

19 de jul. de 2010

suavizando a existência (ou sobre aceitar a própria mutabilidade)

Começou com o sutiã. Tempos atrás eu só usava sutiã de bojo com ferrinho e enchimento, pra levantar minha autoestima e me iludir um pouquinho. Hoje esse tipo de sutiã só sai da gaveta em momentos que me exijam uma produção mais elaborada. É que, de repente, eles me fizeram sentir presa, sufocada, como deviam se sentir as mulheres de antigamente com seus espartilhos apertadíssimos. Meus sutiãs atuais não ficam me avisando o tempo todo que estão ali. Troquei o efeito peitão pelo conforto. Pela leveza.

Tempos atrás eu jamais sairia na rua em horário comercial usando All Star. Eu nem tinha All Star. Só saía de casa me equilibrando em saltos altíssimos e bicos finíssimos. Tênis, só no domingo – e olhe lá – e na hora da ginástica. Sapato baixo? Rasteira? Eu nem sabia o que era isso. Hoje, eles já são quase maioria no meu armário e reinam absolutos em meus pés.

Tempos atrás eu usava uns batons escuros, vermelhos, marrons. Hoje, só cor de boca ou rosinha, no máximo um dourado. Tempos atrás eu usava terninho. Hoje, jeans e camiseta. Tempos atrás eu tinha certeza do que queria fazer na vida. Hoje, abriu-se um leque de possibilidades na minha frente – porque eu quis abri-lo, leques não se abrem sozinhos – e eu estou tateando, provando um pouquinho, sonhando outro tanto, descobrindo o que quero, morrendo de medo, mas indo, vagarzinho. Porque o que eu queria tempos atrás parece que já não me serve mais.

Tempos atrás eu circulava muito segura de mim em eventos de networking, trocava cartões às centenas, achava assunto para falar com pessoas que não tinham nada em comum comigo. Esbarrei em muita gente boa, gente que somou, multiplicou. Mas também em gente pedante, mesquinha, vazia. Conheci perdedores, desesperados, oportunistas. Conheci gente bem-sucedida por mérito próprio, conheci filhinhos de papai brincando de ter empresa, conheci pessoas mal e bem intencionadas. Ingênuos? Nenhum. Sonhadores? Uns tantos. Talentosos, promissores? Alguns. Inteligentes? Muitos. Limitados? Arram.

Eu era um pouco disso tudo aí, eu era um deles. Ou melhor, queria ser, queria parecer. Não podia mesmo durar mais do que durou, ninguém consegue ser o que não é por muito tempo (é mais fácil saber o que não somos do que o que somos!). Até que não fui mal, não. Fiz tudo direitinho. Um pouco por vaidade, mas, sobretudo, para provar a mim mesma que podia. Que conseguia, que tinha competência, que tinha colhões. E tive, afinal. Encarei. Fiz quase tudo o que me propus a fazer, cometi erros e acertos. Essas coisas que só acontecem com quem faz. Valeu, mas passou. É passado, a hora agora é outra.

Isso é coisa de ser humano. Essa incoerência, essa mutabilidade. Somos incrivelmente incoerentes e irremediavelmente imperfeitos, por mais que tentemos mostrar o contrário, ser o contrário. Eu, dessa luta, já desisti. Porque ela é infantil e inglória. Não paga a pena. Minha luta é justamente aceitar – e como é difícil! – minha falibilidade, meus enganos, meus lapsos, minhas incertezas, minhas limitações, minhas volubilidades. Minha luta é encarar os desejos de mudança e não fazer de conta que eles não existem. É ser o que quero ser, que não é o que eu queria ser antes, mas agora é, e amanhã pode ser outra coisa. Por mais inconcebível e contraditório que pareça.

Começou com o sutiã. Culminará em algo que ainda não sei o que é, mas que deixo ser.

13 de jul. de 2010

como doar computadores e itens de informática em Porto Alegre

Achei tão difícil descobrir informações sobre isso que resolvi postar aqui, mesmo não tendo muito a ver com o propósito do blog.

O Centro Social Marista - CESMAR, que faz parte do Projeto CRC (Centro de Recondicionamento de Computadores), recebe doações do chamado lixo eletrônico, a parafernália que a gente junta em casa ou no escritório e, quando obsoleta, não sabe mais o que fazer com ela. Eu estou com um monitor de 15" sobrando e há muito desisti de tentar faturar algum troco com ele. Por pouco ele não foi parar na lixeira do meu prédio! Flagrei o Fredo quase no corredor com o trambolho nos braços. Não! Volta! Vou descobrir pra onde mandar o monstro, pro lixo seco ele não vai!

Então tá, pra quem está em Porto Alegre e imediações, seguem as informações gentilmente passadas pelo Fabiano de C. Flores, que prontamente me respondeu ao e-mail com tudo o que eu precisava. E no site http://www.computadoresparainclusao.gov.br/ tem bastante conteúdo sobre o assunto.

Pontos de coleta:

Colégio Marista Rosário
Deixar na recepção de segunda a sexta-feira das 8h as 12h e 14h às 17h
R. Praça D. Sebastião, 2 – Porto Alegre - RS
90035-080 – Fone/Fax (51) 3284-1200/3284-1220
Email: osario@maristas.org.br

Colégio Marista Ipanema
Deixar na Tesouraria de segunda a sexta-feira das 7h30 às 12h e 13h as 17h30
Av. Coronel Marcos, 1959 – Ipanema – Porto Alegre - RS
91760-000 – Fone/Fax (51) 3248-2209/3248-9499
Email: ipanema@maristas.org.br

Centro de Pastoral e Solidariedade – PUCRS
Deixar na Pastoral de segunda a sexta-feira das 8h às 21h30. Não fecha ao meio dia.
Av. Ipiranga, 6681 – prédio 17 sala 101
Bairro Partenon
Fone: 3320-3576

USBEE - CENTRO SOCIAL MARISTA - CESMAR
Recebe doações às terças e quintas, das 9h às 11h e das 13h30 às 16h
Estrada Antônio Severino, 1493
Bairro Mário Quintana
Porto Alegre/RS - CEP 91250-330
Fone (51) 3366.3817 ou (51) 9935.4023

ATUALIZANDO: recebi resposta da empresa PEACOCK DO BRASIL no dia 19/07 para o email enviado no dia 10/07. Antes tarde do que nunca. Eles têm o projeto E-Lixo, que também recebe doações. O endereço é Rua Frederico Mentz, 490, e o horário de funcionamento é de segunda a sexta das 8h30 às 11h30 e das 13h30 às 17h30.

Vou fazer a minha doação e depois conto como foi :-)

1 de jul. de 2010

a europa e a internet

Se às vezes me pergunto como era possível viver sem internet, na hora de viajar esse questionamento fica ainda mais contundente. Afinal, para tornar realidade nossa viagem de 20 dias pela Europa, usamos a internet para montar o roteiro, comprar as passagens e os tickets de trem, reservar os hotéis, alugar o carro... Não fosse ela, como teria sido? Sei lá, mas o que importa é que tudo o que fizemos pela internet deu certo. Isso mesmo: tudo.

Essa viagem começou a ser imaginada há bastante tempo e vinha sendo adiada ano a ano, até finalmente decidirmos: de 2010 não passa. O primeiro passo foi escolher a época: maio. Primavera, fora da alta temporada, nem tão frio, nem tão quente. As próximas decisões já podiam começar a ser tomadas.

Já tínhamos algumas ideias, vontades, sonhos, mas o roteiro só tomou forma mesmo quando, depois de alguns dias monitorando os sites das companhias aéreas, conseguimos um bom preço na passagem da KLM direto a Praga. Na verdade, os voos da KLM sempre passam por Amsterdam, de modo que o trajeto ficou Porto Alegre - São Paulo - Amsterdam - Praga. Já a volta ficou Paris - Amsterdam - São Paulo - Porto Alegre, sendo que a conexão Paris - Amsterdam foi feita três dias antes da data de retorno. Assim, por uma módica taxa de 60 reais, a capital holandesa entrou definitivamente em nosso roteiro.

A passagem foi adquirida no próprio site da KLM uns cinco meses antes do embarque. Era o tempo que tínhamos para decidir todo o resto. Praga, Paris e Amsterdam eram destinos certos. O que fazer no resto do tempo? Vai dizer. Essa é uma das melhores partes da viagem. Nesta fase, reservamos e cancelamos hotéis (os que não cobram adiantado, claro), mudamos de ideia várias vezes, reviramos o Trip Advisor, o Conexão Paris e o Viaje na Viagem (entre outros) de cima abaixo, devoramos guias impressos (sim, eles continuam sendo essenciais!), conversamos com viajantes mais experimentados... Enfim, começamos a viajar antes de sair de casa.

Um mês antes, tínhamos tudo 100% definido e reservado. Nosso roteiro passou a ser Praga, Garmisch-Partenkirchen e Munique (Alemanha), Paris e Amsterdam. A seguir, relato as principais "transações" – de reservas a compras – feitas pela internet que nos ajudaram a compor a viagem.

- Hotel em Praga: reservamos pelo Late Rooms o Residence Agnes por 66 euros/dia. E ficamos positivamente surpresos: o hotel era melhor ao vivo do que nas fotos do site, muito bem localizado em uma rua tranquila a poucos minutos a pé da Cidade Velha. Funcionários gentis e com inglês fluente. Claro que deve haver hotéis muito melhores em Praga, mas este tem uma excelente relação custo x benefício!

- Aeroporto de Praga até o hotel - serviço de transfer: primeiro destino num país cuja língua é o tcheco... achamos melhor não arriscar. Contratamos – por e-mail – o serviço de transfer do hotel. Além de ser quase o mesmo preço de um táxi (30 dólares), vale pela comodidade, afinal, era a chegada e estávamos bem cansados.

- De Praga a Munique - ônibus e trem: depois de quatro deliciosos dias na capital tcheca, era hora de mudar de ares. Alemanha! Como não havia trem direto para Munique, o jeito foi comprar o ticket que faz Praga-Nüremberg de ônibus (de primeira categoria, aliás) e Nüremberg-Munique de trem. Compramos no próprio site da DB, a companhia de trens alemã, com o prazo máximo de antecedência, que são 90 dias. Vale a pena: pegamos a menor tarifa possível! Mas tem que ficar monitorando para não perder a barbada.

- De Munique a Garmisch-Partenkirchen - carro: nosso primeiro destino na Alemanha não foi Munique; ficamos três dias na pequena Garmisch-Partenkirchen, localizada aos pés dos Alpes, a meio caminho de Innsbruck, na Áustria, e de Füssen, onde está o castelo de Neuschwanstein (o da Cinderela). Alugamos pela Sixt uma Mercedes A160 novíssima que aquecia até a bunda (achei supérfluo, mas como pegamos quase zero graus por lá, mudei de opinião rapidinho) e devidamente equipada com GPS, o que se mostrou uma mão na roda. A reserva do carro havia sido feita previamente pelo site da Sixt.

Não posso deixar de falar sobre a experiência do aluguel do carro. Em todas as vezes que fiz isso no Brasil, perdi pelo menos uma hora com a burocracia da papelada, as explicações idiotas (como ligar o pisca-alerta, como abrir o porta-malas...) e as vistorias. Em Munique, colocaram a chave na nossa mão, disseram (naquele inglês carregadíssimo) onde o carro estava e virem-se! Na entrega a mesma coisa: eles não foram nem conferir se o tanque estava mesmo cheio, se não usamos o carro em um rally... só devolvemos a chave e thank you very much! Enfim, tudo muito self-service e na base da confiança. Bem diferente daqui...

- Hotel em Garmisch-Partenkirchen: nos hospedamos no Mercure, da Accor. Neste caso pagamos adiantado para garantir as ótimas tarifas. Não imaginávamos ficar em um hotel de rede logo em Garmisch – embora este Mercure seja excelente –, mas não tivemos muita opção: lá, a maioria das pousadas é pequena e familiar, muitas não tem nem site, e as que enviamos e-mail não tinham quem entendesse inglês. Esse é o tipo de lugar onde internet e inglês não são tão úteis assim, o que, sinceramente, considero um charme a mais.

- Hotel em Munique: na capital da Bavária ficamos em um Tryp da rede Sol Meliá. A localização é apenas razoável (15 minutos a pé da Marien Platz, a famosa praça no Centro de Munique), mas o hotel é bom. A reserva, feita diretamente pelo site, foi paga no ato para garantir a tarifa camarada, que não incluía café da manhã. Mas isso não foi um problema, já que na Alemanha é possível comprar queijos, presuntos, pães e mil coisas deliciosas por preços inacreditáveis.

- De Munique a Paris - trem: este ticket também foi comprado no site da DB. A viagem levou seis horas e foi tranquila. No entanto, em Paris as coisas mudaram um pouco. Nós, que vínhamos da Alemanha, onde tudo funciona e é muito limpinho e cheirosinho, fomos negativamente impactados pelas estações de metrô da capital francesa. Sabíamos quais linhas pegar para chegar até nosso endereço, mas na prática não foi tão simples, pois foi preciso carregar duas malas grandes e pesadas escada acima e escada abaixo várias vezes. Demorei a acreditar naquilo: poucas estações de metrô de Paris têm escada rolante. Elevador? Esqueça. Não sei como cadeirantes se locomovem naquela cidade. Concluímos que a economia do táxi não vale o esforço.

- Estúdio em Paris: como ficamos sete dias em Paris, optamos por um estúdio e não por um hotel. Depois de pesquisar bastante, achamos que era o melhor a fazer, pois pelo que estávamos dispostos a pagar pela diária, o máximo que conseguiríamos seria um hotelzito muito meia-boca. Não é exagero: por 100-120 euros é difícil ficar bem instalado em Paris. O estúdio foi encontrado no site http://www.homelidays.com/ (referência 18500) e era apenas razoável. Se o proprietário fosse mais caprichoso, nossa impressão teria sido beeem melhor. E o prédio, óbvio, não tinha elevador: nada menos que 112 degraus nos separavam do estúdio. Haja perna, pulmão... Mas enfim, a semana saiu por 450 euros, uma pechincha. E a localização é quase imbatível: na rua Saint Honoré, bem no Centro, pertíssimo do Louvre, do Sena, de metrôs e etc. Por isso, fica a dica: quem pretende ficar pelo menos uma semana em Paris (costuma ser o mínimo exigido) pode optar por um estúdio ou apartamento pequeno, e se puder desembolsar mais do que nós, tanto melhor. Provavelmente encontrará excelentes ofertas.

- De Paris a Amsterdam - avião: o deslocamento Paris – Amsterdam foi feito de avião, já que fazia parte da nossa passagem da KLM. Desta vez nem cogitamos pegar o metrô, até porque o aeroporto Charles de Gaulle é bem mais longe que a estação do trem. Subir e descer escadas carregando 50 quilos de malas, nunca mais!

- Bed & Breakfast em Amsterdam: terminamos nossa viagem em Amsterdam, onde nos hospedamos em um bed & breakfast, o Inn Old. Ficamos muito felizes com nossa escolha: é uma espécie de pousada, localizada no centro da cidade e ao lado do distrito da Luz Vermelha (o que foi ótimo, o bairro é o máximo!), com diária de 95 euros com café (para Amsterdam, o preço é bem camarada). O quarto era lindinho, amplo e aconchegante, mas tinha o inconveniente de não ter banheiro privativo, era preciso dividi-lo com os proprietários. Um pouco estranho, certo? Mas não foi problema nenhum: o banheiro era absolutamente limpo e, como era apenas mais um casal, foi super tranquilo.

Tanto em Paris quanto em Amsterdam, a reserva da hospedagem foi feita por e-mail diretamente com os proprietários. Nos dois casos, não pagamos nada adiantado. Foi tudo feito na base da confiança. Depois de vários e-mails trocados, já nos sentíamos amigos dos caras. Enviamos todas as informações possíveis para tranquilizá-los de que realmente estaríamos lá no dia combinado, e poucos dias antes do embarque um último e-mail dizendo “já, já estaremos aí!”. Para nós, brasileiros, que não confiamos nem na própria sombra, que estamos sempre a mercê de algum espertinho pronto para nos passar a perna... essa é uma das melhores coisas da Europa.

E por que decidi escrever sobre isso? Ah, sei lá. Tanta gente nos pergunta “como vocês foram? com que agência?” e aí respondemos “agência nenhuma, fizemos tudo por conta” e muitos ainda ficam impressionados com isso, principalmente porque foi nossa primeira vez na Europa. Não tenho nada contra agências de turismo, mas vejo que muita gente poderia fazer diferente e não faz por insegurança, porque não se acha capaz de fazer ou porque não confia na internet (pois saiba que o seu agente de turismo faz tudo pela internet também, da mesma maneira que você faria). E, com isso, não se dedica tanto a sonhar, planejar, pesquisar, escolher. Deixar tudo nas mãos de especialistas pode reduzir os riscos ao mínimo (nunca a zero), mas o que você terá aprendido? Acho que toda viagem tem seus momentos roubada, tem imprevistos, tem coisas que você achava que seriam diferentes. Você vai tomar “tufo” antes, durante ou depois. Você vai gastar mais do que planejou. Você pode ficar resfriado (aconteceu comigo em Garmisch), você pode ser surpreendido pelo frio ou pelo calor fora de época (Paris 35 graus em maio). Você vai se irritar por não ser compreendido, vai ficar feliz porque entenderam seu inglês macarrônico, vai cruzar com pessoas grosseiras e gentis, vai derrubar preconceitos e mitos. E acredito que tudo isso será muito mais intenso se você tiver feito todas as escolhas.

Mas é só a minha opinião.

10 de jun. de 2010

tem que ir

"O quê? Você foi a Amsterdam e não visitou o museu da Anne Frank?"

Pois é, passei essa, algum problema?

Eu mesma vivo fazendo isso, mas tenho tentado me policiar. O fato é que é quase irresistível querer que os amigos façam e vejam o mesmo que você. Esquecemos que a nossa viagem é diferente da viagem deles. A realidade, as vontades, os gostos, tudo é muito diverso, por mais afinidade que se tenha.

Analisemos o típico caso do "tem que ir". No fundo, o seu amigo quer que você passe pelo mesmo que ele passou. E, muitas vezes, a experiência dele não foi das mais agradáveis. Você “tem que ir” porque ele não quer se dar mal sozinho, ou não quer reconhecer que fez programa de índio e acaba “indicando” a roubada. Não é fácil assumir os próprios erros, ainda mais quando estão envolvidas boas somas de dinheiro e as suas preciosas férias.

Aconteceu conosco em Búzios. Vários amigos recomendaram que fôssemos a Arraial do Cabo, que é ali perto. Lá fomos nós. As águas são realmente cristalinas, mas o passeio de barco foi uma droga. Quando tudo acabou, lamentamos o dia perdido em um programa mais ou menos.

Então o negócio é desencanar e não entrar nessa do "tem que ir". Tem que ir para ver que é ruim com seus próprios olhos? A internet está aí para informar e advertir. Pesquise antes – em sites isentos, por favor – para não cair em armadilhas.

E aí chegamos ao ponto. A Torre Eiffel.

De tudo o que fiz em Paris, o mais "tem que ir" era subir a Torre Eiffel.

A primeira vez que eu enxerguei a Torre foi incrível. Foi logo no primeiro dia, de uma das pontes do Sena perto do Louvre. Dei um gritinho e senti o frio na barriga: estou em Paris. Sensação maravilhosa. Depois a vi várias outras vezes, de perto e de longe, porque é raro algum ponto de Paris de onde não se possa ver um negócio daquele tamanho. Ela está quase sempre lá, acompanhando nossos passos.


Mas e subir?

Bom, eu estava decidida desde sempre que subiria. O Fredo, nem tanto. Ele bem que tentou me dissuadir, mas não conseguiu. Fora de cogitação, “tem que ir”. Escolhemos uma segunda-feira de manhã, fugindo estrategicamente do final de semana. Chegamos o mais cedo possível, que não foi tão cedo assim porque ficamos bebendo vinho rosé na noite anterior e acordamos de ressaquinha.

Vou pular a parte em que ficamos mais de meia hora na fila errada (na que não tem elevador e os turistas pagam 5 euros para subir 400 degraus - sinalização, definitivamente, não é o forte de Paris). Uma vez na fila certa, precisávamos decidir se iríamos até o último nível, a mais de 300 metros de altura. O Fredo não estava nem um pouco a fim. Eu não estava completamente certa. Mas o "tem que ir" falou mais alto. Vou subir na Torre Eiffel e ficar no segundo andar, SÓ a 115 metros de altura? Não. Quero o topo.

Naquele dia, o céu de brigadeiro não podia ser mais perfeito para ver a cidade do alto. Só que o sol e o calor estavam implacáveis – em plena primavera, demos a sorte ou o azar de pegar temperaturas de verão em Paris. Com isso, a fila, que já é lenta e cansativa, ficou ainda pior. Levamos em torno de 1 hora e meia só para comprar os tickets, mais meia hora até chegar ao saguão do elevador, tudo isso sob um sol escaldante. No tal saguão espremeram-se dezenas de crianças e adultos, e o Fredo, que é meio claustrofóbico, quase desmaiou. E não é que o elevador resolveu dar pau bem nessa hora? Siiiiim, em Paris os elevadores também pifam. Mas ninguém arredou o pé: essa geringonça vai ter que funcionar! E funcionou, depois de mais uns vinte minutos esperando. Ar-condicionado? Nem em sonho.

Quando finalmente chegamos ao segundo andar, a vista levou um tempo até chamar nossa atenção. Estávamos cansados, queríamos ir ao banheiro e sentar um pouco depois de tantas horas de pé. Imagine o humor do Fredo a essas alturas. Eu, diplomática como quase sempre, tentava ver o lado bom da situação e me entusiasmar, afinal, estava na Torre Eiffel.

Depois de um rápido descanso, fomos disputar nosso lugar ao sol (literalmente) para curtir a vista e tirar fotos. Foi preciso enfrentar hordas de gente de todas as nacionalidades para chegar aos pontos que poderiam dar boas fotos. Na minha opinião, sobe gente demais naquela Torre. E isso ficou ainda mais evidente quando decidimos pegar o elevador que nos levaria ao topo: devia ter umas 500 pessoas na fila. Ou seja, se havia fila para subir, claro que também haveria para descer, e depois mais uma para ir do segundo andar ao térreo. Tô fora.

Pois é, resolvemos não subir. Pagamos o ticket de 13 euros (o do segundo andar é 8 euros) e jogamos dinheiro fora. Não dava pra encarar mais aquela fila. O "tem que ir" tinha chegado ao limite. Já me disseram que o legal de subir é mais pela emoção da subida mesmo, porque tudo fica pequenininho demais daquela altura e bom mesmo é ver Paris do segundo andar. De fato, a vista dali é belíssima. As fotos estão aí para comprovar.



Agora, se vierem me perguntar se eu acho que a Torre Eiffel é programa obrigatório, já sei o que vou dizer:
Ver a Torre de longe é muito legal, faz você sentir que está MESMO em Paris, e você não precisa ir a nenhum lugar muito específico para vê-la.
Ver a Torre de perto (mas não muito de perto) é muito legal também, especialmente da Place du Trocadéro.
Ver a Torre ao anoitecer, quando ela se ilumina, e o show de luzes (que dura uns 5 minutos) é imperdível.
Você pode ter vistas maravilhosas de Paris sem sofrer tanto: do Arco do Triunfo (a que eu mais gostei), do terraço do Centre Pompidou, da Sacré-Coeur. E certamente de outros pontos que eu desconheço.
Sobre subir a Torre, decida sozinho. Mas eu é que não vou dizer "tem que ir".

E se você quiser uma cidade bonita DE VERDADE vista do alto, vá a Praga, na República Tcheca!


9 de jun. de 2010

o que vale a pena contar


Opa, tudo bem?

Não voltei da Europa inspiradíssima para escrever sobre a Europa. Achei mesmo que isso aconteceria. Também pensei que escreveria muito sobre a viagem que fiz no verão de 2009 para o litoral de Alagoas, mas acabei não escrevendo nada. Fui deixando, deixando, e o momento passou.

Não é o mesmo que acontece com essas férias europeias, que obviamente não foram como ir para o Nordeste do Brasil. Mas é que tanto se fala sobre Paris, Praga, Amsterdam e etc. que eu não acho que minhas impressões possam contribuir muito. São impressões, como eu bem disse no post anterior, de uma "marinheira de primeira viagem". É o olhar de alguém que pisa na Europa pela primeira vez, e portanto, muito limitado.

O fato é que, no final das contas, cada um tem uma visão, cada experiência é única. A minha foi diferente da sua. É normal que eu não tenha gostado muito da mesma coisa que alguém adorou, e vice-versa. Não vi nem fiz tudo o que outras pessoas fizeram, os destinos que escolhi não são os mesmos que muitos teriam escolhido. Qualquer coisa que eu escreva será absolutamente particular, representará unicamente a realidade que eu vivi.
Por tudo isso, vou me abster de detalhar meus 20 dias de férias na Europa. Coloquei as melhores fotos no Orkut para compartilhar com os amigos de perto e de longe. Pretendo fazer o mesmo no Facebook, assim que sobrar um tempinho. O resto é lembrança, é o que terei sempre para contar, é vivência, e isso nem cem anos apagam.
O que certamente acontecerá é que, em meus próximos textos, minha experiência virá sob outras formas, afinal, uma viagem é aprendizado e descoberta. Me sinto, sim, mais completa. Faltava isso no meu currículo.
No entanto, quero escrever sobre algumas coisas sim, ideias que vieram com a viagem. O próximo post, sobre a máxima TEM QUE IR, vai contar nossa aventura (desventura?) ao subir a (imperdível? obrigatória?) Torre Eiffel. Também quero falar sobre o fato de a viagem ter sido inteiramente planejada, pesquisada e, principalmente, RESERVADA e COMPRADA pela internet. Isso sim, vale a pena ser compartilhado.

2 de mai. de 2010

borboletas no estômago


Então as coisas vão acontecendo e me deixando assim, meio tonta. Tudo o que penso e faço e vejo é para a viagem de daqui a alguns dias, aquela tão sonhada, aquela acalentada durante anos e anos, desde que me entendo por gente, talvez. Aquela que deveria ter acontecido de outro jeito, num outro momento, ou não, porque daí não seria esta viagem, teria sido outra. Esta é esta, aquela é aquela, e aquela não aconteceu, pronto. Let’s change the subject.

Será minha primeira vez em um avião com três fileiras de cadeiras, cada fileira com três cadeiras, o que faz com que este avião tenha nove fileiras de cadeiras. Ou melhor, de assentos. Avião tem assento, não cadeira. Já era hora de eu saber disso. Também será a primeira vez que ficarei mais de dez horas dentro de um avião, sobrevoando um oceano. Será a primeira vez que pisarei no Velho Mundo, aquele das aulas de história e dos filmes épicos. São tantas primeiras vezes que acho melhor parar por aqui.

Já ando pensando como e o que vou escrever quando voltar. Primeiro: pretendo me esforçar para deixar a pretensão de lado e escrever como uma boa turista de primeira viagem. Que é o que sou, for God's sake. Não posso querer escrever ou pensar como parisiense, praguense, muniquense, amsterdanense. Não tem jeito, serei mais uma brasileira deslumbrada a descobrir as maravilhas do outro lado do Atlântico, a contar centavos de euros pra ver se dá pra jantar naquele restaurante bacana, a invejar a vida europeia, o glamour de Paris, as cervejas alemãs, os telhados alaranjados de Praga, os cafés de Amsterdam. E serão tão poucos e breves dias em que tentaremos ver e fazer tudo o que pudermos, mas também tentaremos andar à toa pelas ruas, ouvir as línguas estranhas, observar as pombas nas praças, apontar para o lixo na rua e dizer "viu, viu! aqui também tem sujeira, não é só no Brasil". Ou não.

Seja como for, juro, prometo que vou escrever como uma iniciante, com todo o direito de errar, de falar a maior bobagem do mundo, a ponto de me acusarem de louca, de perguntarem "mas você esteve na mesma Paris que eu estive???". Porque a gente só consegue sentir um lugar, saber um lugar, depois de ir duas, três, muitas vezes. E mesmo assim (então não falei há poucos dias sobre minha incrível visão míope do Rio de Janeiro? então não versei sobre minha segunda vez em Búzios, dez anos depois?), nunca conheceremos, nunca saberemos como eles, como os que lá são o que eu sou aqui em Porto Alegre, e olhe que nem portoalegrense eu sou (que o digam os amigos guaibenses que se entristecem ou se ofendem ou me xingam ou só acham graça do meu menosprezo - a esses últimos, obrigada pela compreensão).

Então aqui estou eu, escrevendo pela primeira vez sobre a viagem que planejo há meses. Apenas cinco dias me separam dela. Minha lista de afazeres turísticos inclui muitas compras em freeshops e pontas de estoque europeias descobertas internet afora, porque sou mulherzinha até dizer chega. Mas inclui, sobretudo, sentir. Viver. Ver. Comer e beber, talvez não nessa ordem. Andar, me cansar, não entender, me perder, me encontrar. Falar inglês (detalhe: não vou a nenhum país de língua inglesa, God have mercy). Levar patada de algum francês mal-humorado. Me sentir cosmopolita uma vez na vida.
Sinto borboletas no estômago. Foi meu professor de inglês, o Marlo (que me ajudou a estar neste momento com a língua da aunt Elisabeth praticamente desenferrujada), quem me falou isso. Do you feel butterflies in your stomach? Sim, sinto. Muitas borboletas. Não dá pra fingir que é só mais uma viagem. It's big deal. Por mais piegas, por mais clichê que isso pareça, é a realização de um sonho.
Meu próximo post será, muito provavelmente, só em junho. É rapidinho. Vou ali e já volto.

Au revoir!

19 de abr. de 2010

os pseudorreligiosos

Pergunte aos seus amigos, colegas e conhecidos qual é a religião deles. Salvo um ou outro, a maioria dirá: sou católico, mas não-praticante. Ou então eles darão aquela resposta pronta de revista de celebridades: "Não sou religioso, mas tenho espiritualidade. Acredito em uma força superior que olha por nós..."

Será que é assim tão difícil dizer simplesmente que não se está nem aí para religião? Em nosso país, parece vergonhoso ou imoral não ter uma religião, principalmente não ser católico. Você não pode ser ateu ou agnóstico, mas tudo bem se não frequentar a igreja. Você comunga a cada dez anos e fecha os olhos para rezar o Pai-Nosso quando almoça na casa daquele tio meio crente, e tudo bem se vive a dizer heresias e a proferir o nome de Deus em vão. Você faz questão absoluta de se casar na igreja e de batizar seu filho, e esses eventos estarão entre a meia dúzia de vezes em que você ficará frente a frente com um padre na sua vida. E depois ainda irá praguejar contra esses mercenários que ficam cobrando o dízimo e obrigando você a ir à missa de preparação para a primeira comunhão do seu filho.

Mas você faz tudo isso mesmo assim. Porque é como manda o figurino. Você não quer ir para o inferno, afinal de contas. Deus perdoa bem mais fácil os pecadores devidamente sacramentados. Ele certamente perdoará você, que é um honesto pai de família, só quer o bem do próximo (com exceção daquele seu vizinho chato) e é batizado, crismado e casado com a benção do sacerdote da paróquia mais próxima.

O Brasil é um país católico, dizem. Se houvesse estatísticas reais (talvez existam, não sei), elas provavelmente mostrariam que essa maioria católica está fortemente baseada nesses pseudorreligiosos. É engraçado, até. Mesmo diante de uma igreja tão desacreditada, cuja história, muitas vezes hedionda, aponta a culpa ou responsabilidade por tantas guerras e povos dizimados, mesmo com as incontestáveis evidências de que o Vaticano usou, ao longo dos séculos, todo o seu poder em benefício de seus próprios interesses escusos, mesmo com a incrível multiplicação de padres pedófilos pelo mundo, mesmo assim, ao menos no Brasil, as pessoas ainda fazem questão de ser - ou de parecer - católicas. Como se desse título dependesse o seu lugar no reino dos céus.

***

Esta crônica foi escrita em sala de aula, no dia 12/04/2010, para a disciplina Escrita Criativa da Faculdade de Letras da PUCRS, ministrada pelo professor Charles Kiefer. O tema proposto era religiosidade.

Valia 2,0. Tirei 1,9. Humpf.

A propósito, de certa forma o texto é uma crítica a mim mesma, católica não-praticante que só reza quando o avião decola, nascida em uma família extremamente católica e com direito a mãe ex-freira, pasme. Ainda assim, na adolescência me desliguei desses assuntos, não me crismei e nem me casei na igreja. Mas, com certeza absoluta, batizarei o filho que um dia terei, e provavelmente o matricularei na catequese. Depois, acho que deixarei que ele cresça e se entenda por gente, para que então, quem sabe, escolha uma religião para si. É, acho que é por aí.

8 de abr. de 2010

deixa assim

Capital da violência ou paraíso tropical? Clichês à parte, o Rio de Janeiro me encanta tanto que chega a doer. Sonho com o dia em que poderei financiar no mínimo uma longa estada por ano na cidade. Enquanto isso, vou vivendo das memórias de cada segundo que lá passei. E fico esperando ansiosamente pela próxima promoção de companhia aérea.

O Rio, por si só, já é um clichê. Não é a imagem automática que todo estrangeiro tem do Brasil? A cidade maravilhosa entoada em mil versos? O cartão postal capaz de representar um país inteiro? Pensando assim, dá até pra dizer que todo brasileiro é um pouco carioca!

Se o Rio é o próprio clichê, é também a mais pura contradição. É onde muitos querem estar, e de onde tantos querem fugir. É onde o pobre tem vista para o mar e o rico vive atrás das grades. Abriga a intelectualidade da Zona Sul e a futilidade da Barra da Tijuca.

Visão deturpada? Estereotipada? É provável que sim. Cariocas, não se zanguem! Não passo de uma turista. Até tento parecer nativa, mas o desbotado da pele e o sotaque sem chiados me denunciam em segundos. Não tenho a pretensão de descrever o Rio dos cariocas, mas sim o de uma visitante esporádica. E cegamente apaixonada.

Mas e se eu me mudasse pro Rio? Bom exercício. Adoro me imaginar vivendo nos lugares que visito. E todas as vezes em que estive no Rio, essa imagem quase se materializou diante de meus olhos.

Eu moraria em Ipanema. Também poderia ser no Leblon. Numa daquelas ruas transversais às avenidas. O prédio teria grades e segurança. Mas, uma vez do lado de fora, eu estaria livre, a poucos passos da orla. Eu seria bronzeada e sarada, afinal, me exercitaria todas as manhãs no calçadão e na praia. Nos finais de tarde, iria com as amigas a um boteco pé-limpo e tomaria chope da Brahma. Nos finais de semana, me remelexeria nas casas de samba da Lapa.

Você dirá: não é bem assim. E eu direi: ESSE é o Rio que me dói. Assim é o Rio das minhas lembranças. Não estrague meus sonhos. É desse Rio que eu quero sentir saudades. Então, fazendo o favor, deixa assim.
***
Este texto foi originalmente escrito a mão, no dia 31 de março de 2010, na aula de Leitura e Produção Textual da Faculdade de Letras da PUCRS. Depois da correção e das pertinentes considerações da professora Jocelyne Bocchese, ele foi revisado e adaptado para melhor se enquadrar aqui no blog.
Poucos dias depois, chuvas implacáveis caíram sobre o Rio de Janeiro, fazendo centenas de vítimas. No noticiário, o Rio e as cidades do entorno são cenários desoladores. Por isso, achei que seria um bom momento para publicar o texto. O Rio de hoje - 8 de abril de 2010 - não é o que eu quero guardar na memória, mas é o que está precisando de ajuda. Força a todos os cariocas e fluminenses.

5 de abr. de 2010

não me conta


Acho incrível a facilidade que algumas pessoas têm de contar para quase estranhos suas coisas mais íntimas. Sabe aquela clássica frase "não me conta"? Quando acontece comigo, é isso o que eu realmente gostaria que a pessoa fizesse. Da minha boca sai "não me conta", mas à minha cabeça só vem "não me conta, eu não quero saber, eu não te conheço, não me conta!"

O que faz uma criatura falar a uma pessoa que conheceu anteontem e com quem não conversa mais do que trivialidades que está sendo traída pelo marido? Ou que está atolada em dívidas? Que está com infecção urinária? Que o filho tem problemas com drogas? É carência? Falta de assunto? Uma maneira de chamar a atenção? Por que um quase desconhecido se sente tão à vontade na minha presença a ponto de me transformar em ouvinte e conselheira?

Ninguém é obrigado a se interessar pelos assuntos alheios. Quem nunca se viu no desconforto de ter que fingir interesse, devolvendo interjeições, caras e bocas, mas se sentindo incapaz de dizer qualquer coisa que não soe fora de lugar? Ou então fazendo de conta que escuta enquanto, na verdade, a cabeça está focada em seus próprios problemas (ou em como não queria estar ouvindo aquela história)?

Eu falo das minhas coisas mais pessoais a bem pouca gente. Não defendo o não falar, o guardar para si, apenas não consigo me abrir a quem não me conhece pelo menos um pouco. Sempre que tentei fazer diferente, me senti meio idiota, como se estivesse jogando fora palavras sem significado. Prefiro ter certeza de que meu interlocutor tem interesse no que eu digo. Que me entende, que nutre simpatia e empatia por mim. É raro encontrar isso em um estranho.

Para ser sincera, meu sentimento em relação a essas pessoas tão abertas é ambíguo: sinto inveja e até certa admiração, porque não tenho essa habilidade. Mas sinto também um pouco de pena, porque acho que essa ausência de critério sobre “o que falar para quem” pode ser um sinal de desespero, um pedido de socorro. Mas também pode ser a mais pura e simples falta de noção.

Pode parecer incoerente eu escrever em um blog público sobre esse assunto, justamente quando me confesso tão reservada em relação a assuntos mais íntimos. É que escrever é um bom e necessário exercício para quem é assim como eu. Não pretendo relevar segredos recônditos através dos meus textos – vou continuar reservando-os aos amigos mais próximos –, mas aos poucos vou perdendo o receio de expor opiniões e sentimentos. Já é uma evolução. Para uns, podem ser apenas palavras à toa. Para outros, podem significar alguma coisa, mesmo tendo sido escritas por uma estranha.

26 de mar. de 2010

2 de mar. de 2010

bons e maus palavrões


O Fredo não gosta que eu fale palavrão. Ele fica chateado, por exemplo, quando a gente discute por bobagem e eu meto um palavrão no meio. Tipo, ah, vai te foder. Ele fica horrorizado, tadinho. Não sei como ele ainda não se acostumou, porque sempre fui meio desbocada.

Mas tem isso, né. Tem gente que não gosta de palavrão. Pessoas que têm os ouvidos sensíveis e acham que dá pra dizer o que se quer sem lançar mão deles. O Fredo mesmo, só fala em situações extremas, como pra xingar alguém no trânsito. "Vai tomar no teu cu" é a expressão preferida nessas ocasiões. E mesmo quando está bem brabo comigo, ele nunca me manda pra lugar nenhum. É um gentleman.

Só que eu acho que o palavrão tem um papel importantíssimo na nossa linguagem. Não adianta, tem coisas que a gente quer falar que só um palavrão consegue materializar. Não dá pra usar outras palavras quando a intenção é mandar alguém "se foder" ou "tomar no cu". Eufemismos como "vai pro inferno" ou "vai te catar" não têm o mesmo impacto.

E tem outra: hoje em dia a gente quase nunca fala palavrão pra insultar alguém. Na maioria das vezes ele serve pra enfatizar alguma coisa. O palavrão perdeu a conotação ofensiva no uso cotidiano. A gente diz que uma coisa é “muito afudê” (ou "a foder", sei lá como se escreve isso) quando achou muito bom, tri legal. Dizer que algo é "foda pra caralho" também é um super elogio. Chamar um amigo de "filho da puta" (ou "fiá da puta") ou a melhor amiga de "puta" não vai arruinar a amizade.

O significado literal dos palavrões, aliás, pode ser objeto de uma análise muito interessante. Por exemplo, "filho da puta" nunca, nunca quer dizer que a mãe do interlocutor trabalha na zona do meretrício. "Vai te foder" nunca significa que eu queira que o outro vá copular. Dizer que alguma coisa "é foda" não quer dizer que ela seja uma relação sexual. "Vai tomar no cu" também não significa que... ahn, você entendeu.

Eu vejo gente muito educada falando palavrão. Digo educada em termos de formação acadêmica mesmo. E pessoas mais velhas. Empresários. Professores. Médicos, advogados. TODOS falam palavrão. "Escrevi uma petição que ficou do caralho". "Hoje o plantão foi foda". "Mas que baita filho da puta, tirou 10 na prova". Sempre com a melhor das intenções.

Eu prefiro palavrões assim, bonzinhos, embora use as duas modalidades com certa frequência. É que a questão não é o mau palavrão em si, mas sim que, se você precisou dele, é porque estava em apuros, meteu-se em alguma situação complicada. E aí o palavrão é o menor dos problemas.

Seja como for, tem horas que só um palavrão consegue exprimir nossas mais profundas emoções - boas ou más.
(que do caralho essa frase)

24 de fev. de 2010

confesso


Adoro histórias. Confesso, gosto até das comuns, fúteis, mundanas. E também das profundas, edificantes. Whatever. Sabendo discernir entre o que te edifica e o que te entretém, é só relaxar. E se deixar envolver.

É por isso que eu confesso que...

...eu vejo Big Brother. E não resisto a uma novela das oito (aquela que começa depois das nove). Como diria o poeta e filósofo Pedro Bial, sempre dou uma espiada. Nem que seja pra falar mal, apontar furos, dar risada. Ou dar de ombros.

...meu controle remoto adora parar em America's Next Top Model, Brasil's Next Top Model, Project Runway, American Idol e tudo quanto é reality show que tem por aí. Até Supernanny.

...sou viciada em Desperate Housewives e em Brothers & Sisters.

…morro de rir com Two and a Half Man e The Big Bang Theory.

...gostaria de não perder tantos episódios de House.

...me comovo com as histórias de Cold Case.

...me impressiono com os casos de Law & Order SVU.

...sinto saudade de Sex and The City e vejo as reprises sempre que posso, mesmo sabendo de cor.

...gostaria de ter acompanhado Friends no tempo em que era inédito. Ainda assim, adoro.

...de vez em quando vejo Gossip Girl e acho ótimo.

...fiquei triste quando soube que cancelaram Ugly Betty na quarta temporada.

...preciso de uma nova série para chamar de minha. The Good Wife está entre as candidatas.

...entre um livro e outro, sempre dou um jeito de encaixar um best-seller.

...entre um filme e outro, sempre descubro um blockbuster que vale a pena. Tá, vá lá, não seeeempre...

...choro (muito!) em comédias românticas. Até nas mais toscas.

...agradeço o advento da TV a cabo neste país e na minha casa em especial. Nada como ter sempre uma (boa?) história ao alcance do dedo.

10 de fev. de 2010

uma barata a menos no mundo


Tem uma barata no banheiro do escritório. No banheiro que usamos como uma espécie de copa-cozinha-área de serviço. Nesse exato momento ela está ali, fuçando a louça da pia.

A culpa é minha, quem manda querer ser elegante comendo banana? É que eu tenho a mania de comer banana com garfo, picada em rodelas numa tigela de vidro. O problema é que a tigela é prontamente depositada sobre a pia, ainda cheia de resíduos da fruta. Só penso em lavá-la no final do dia, ou, pior, na manhã seguinte.

É, eu dei muito mole pra essa barata. Lá está ela. Lambendo os restos da minha banana.

Elas até que são raras por aqui, as baratas. Em quase quatro anos, essa deve ser a terceira que aparece. Também, com o calor que tem feito, elas estão se proliferando como nunca. Submergem de todos os buracos da cidade, escalam paredes, canos, saídas de ar. Sei lá como essa veio parar aqui. Barata não tem medo de altura, nem de escuro. Nem de cheiro ruim.

E agora, o que eu faço? Grito? Hoje em dia eu não tenho mais o pânico de antigamente, não berro, não subo na cadeira nem saio correndo. Já fiz muito isso, mas não mais. Ora, sou adulta. Sei que é ela quem deve estar morrendo de medo de mim. Sou muito maior do que ela. Posso matá-la em um décimo de segundo. Ela deve ter conhecido milhares que morreram assim, assassinadas por alguém como eu.

O problema é o nojo. De aranha eu tenho medo, porque tem veneno, e aquelas perninhas, e... Mas pelo menos aranha não se cria em esgoto, não curte um cocô. Que eu saiba. Até lagartixa eu aprendi a respeitar. Me convenceram que ela se alimenta de insetos, então antes uma lagartixa do que um monte de bichinhos com asas em volta dos meus lustres. E elas também não andam sobre excrementos, até onde eu sei.

Mas barata não. Essas são da pior espécie possível. Feias, imprestáveis. E não me venha com aquele papo de equilíbrio ecológico. Eu duvido - DUVIDEODÓ - que a natureza ia sentir falta das baratas. Bem capaz.

Voltando à barata do banheiro. Se eu tentar matá-la, ela vai fugir, e eu vou ter que correr atrás dela. Coisa desagradável. Além de arriscada! Posso tropeçar, cair, quebrar alguma coisa. E com certeza vou gritar. Muito. Aí os vizinhos podem estranhar, vão bater aqui, perguntar se está tudo bem. Melhor não. (ok, eu acabei de dizer que os gritos eram coisa do passado, mas se houver perseguição não tem jeito, vai ter sonoplastia).

E se eu resolver realmente acabar com a raça dela, não posso esquecer que estou usando uma rasteirinha. Como vou dar a necessária chinelada? Nem é nova a sandália, mas é uma das que eu mais gosto. Estou no trabalho, não costumo trabalhar de havaianas.

E mesmo se eu tivesse um par de chinelos aqui, só de pensar na chinelada me vem à cabeça aquele "creck" inevitável, o barulho da morte da barata, a casquinha se quebrando, a gosma se espalhando, e grudando na sola da minha rasteirinha!

TEM que haver outra maneira.

Claro.

Marido.

Nessas horas, e em muitas outras, eu sou a mulher mais mulherzinha que existe. Estou sozinha no escritório, já passa das dezenove, o Fredo está vindo me buscar. Vou convidar para dar uma subidinha. E está tudo resolvido.

Pá!

Meu herói. Uma barata a menos no mundo.

20 de jan. de 2010

hóspedes indesejáveis


Todo verão eu recebia uma visita.
Elas vinham sem avisar, mas eu sempre sabia que viriam. Que chegariam junto com o sol e o calor da estação.
Ficavam por ali aqueles meses. Não davam trabalho. Os amigos comentavam: ó, que bonitinhas! Tão charmosinhas! E eu dizia: fofas, né? Mas logo, logo elas vão embora.
E iam mesmo. Nem davam tchau.
Mas no último verão foi diferente. Elas chegaram menos sorrateiras do que de costume. Estavam maiores, mais espaçosas. Eu sentia a presença delas. Antes não, eu só lembrava quando os outros falavam. Agora elas estavam ali, bem embaixo (e em cima, e em volta) do meu nariz. E davam sinais (!) de que não iriam embora tão cedo.
Veio o inverno e elas continuaram inertes. De visitantes sazonais, transformaram-se em hóspedes indesejáveis. Sabe aqueles "amigos" que chegam na sua casa dizendo que é só por uns dias, e de repente estão comendo a sua comida e deixando a louça suja na pia? É como eu me sentia. A briga ia ser feia.
Busquei ajuda de um especialista. Depois de uma rápida análise, ele explicou o que, intuitivamente, eu já sabia. Elas não eram mais as inofensivas visitantes de verão. Sem saber dizer se foram promovidas ou rebaixadas de cargo, diagnosticou:
- Não são mais sardinhas. São melasmas.
Melasmas!
Então as inocentes pintas marrons que davam um charme extra à minha cara de verão tinham se transformado em melasmas!
Prognóstico: se eu não me cuidar, elas vão se multiplicar feito coelhos e crescer rápido como leitões. Nunca mais, a partir de agora e até o último dia da minha vida, vou poder sair na rua com filtro solar menor que 60. Na praia ou piscina, chapéu com aba de sete centímetros no mínimo.
E isso só para elas não acharem que podem se esparramar à vontade. É preciso começar já o processo de despejo. Sim, colocá-las na rua da amargura, sem dó nem piedade. Não é o que se faz com hóspede abusado? As danadinhas despertaram minha ira. Agora vão ver só uma coisa. Vou transformar o hotel cinco estrelas no lugar mais inóspito para se viver.
Está aberta a temporada de guerra às melasmas.