11 de nov. de 2010

sobre como os beatles entraram na minha vida (ou pretexto para falar do show do paul)

Primeiro ouvi na Ipanema FM que tinha dado no ClicRBS que os empresários de Paul McCartney estariam em negociações para trazê-lo a Porto Alegre, aproveitando a passagem já confirmada por Buenos Aires. Pensei: “Humpf, que esperança”, e fui me ocupar com qualquer outra coisa. Dias depois, a conversa parecia um pouco mais séria. Na Itapema FM, deu que os caras estavam na cidade para visitar os estádios e hotéis e verificar se a estrutura era boa o suficiente para a grandiosidade do artista – não estou sendo irônica. Aí eu disse: “Humm, quantos dias para eles darem o veredicto negativo?”.

Pois é, mordi a língua. Logo o clã Sirotsky se reuniria com os tais empresários para assinar o contrato. Até a data já estava definida: 7 de novembro. Pasmei: “Uau, Paul McCartney em Porto Alegre, unbelievable”. Mas o segundo pensamento foi: “Decerto ele vai tocar só músicas da carreira solo”. Mordi a língua novamente: do setlist que ele vinha apresentando na Up and Coming Tour mundo afora, metade era Beatles. Quando finalmente divulgaram os preços dos ingressos, que nem eram tão absurdos quanto eu tinha imaginado, e que a pré-venda seria para assinantes de jornais da RBS – eu tinha feito uma assinatura de Zero Hora duas semanas antes –, só aí eu tive certeza de que eu iria ao show do Paul McCartney.

Mas a ficha custou a cair. Durante os cerca de 30 dias entre a compra do ingresso e o show, não tive frio na barriga, não fiquei nervosa, permaneci praticamente imune à histeria coletiva que se instalou em Porto Alegre, em grande parte embalada pela mídia massiva e até excessiva da RBS sobre o assunto (acho que exageraram na dose, mas, tratando-se de Sir Paul, é perfeitamente compreensível e perdoável). O máximo que fiz foi ouvir o mais que pude um CD gravado com as músicas do provável setlist que havia sido divulgado (e que se confirmaria totalmente, inclusive a ordem foi a mesma ), já que pouco conheço a carreira solo do moço e detesto ficar boiando em shows.

Tudo já se disse sobre o show e imagino que quem não foi está de saco cheio dessa conversa. Eu estaria. Mas sim, foi mesmo tudo isso. 55 mil pessoas não poderiam ser cúmplices de uma mentira, não teríamos como combinar “vamos dizer pra todo mundo que foi ótimo só pra tripudiar”. Unanimidade é coisa rara e dizem até que é burra, mas parece que o show do Paul McCartney foi para o topo da lista de exceções da velha máxima. Porque foi bom pra caralho. Beirou a perfeição. Deixou todos boquiabertos, bateu fundo no coração e na alma de quem estava lá, fez lágrimas escorrerem, sentimentos aflorarem... e aí já escorreguei pra pieguice e dela acho que não saio nunca mais quando se tratar do show do Paul McCartney.

Cada um tem seus motivos paga gostar de Beatles, do Paul, do John e até mesmo do George e do Ringo, que sempre me parecem meio esquecidos. Cada um tem uma história pra contar. A minha é assim: meu pai é professor de inglês. Ele dava aula em escolas públicas de Guaíba, onde morávamos, para os antigos primeiro e segundo graus. Uma das marcas registradas dele eram as musiquinhas, principalmente nas turmas infantis. Tinha de tudo, de Little Indian a My Bonnie Lies Over The Ocean. E tinha Beatles. Especialmente Love Me Do e Hello Good Bye, com seus versos repetitivos e fáceis, mas às vezes também Hey Jude e Help, bem mais complexas, e até Yesterday, se não me falha a memória. Ele gravava fitas K7 (oi?) a partir dos álbuns duplos de vinil (oi?) de capas azul e vermelha, que eram coletâneas do que de melhor o grupo fez ao longo de toda a carreira – o vermelho era da fase iê iê iê, e o azul, da psicodélica, da mais rock n’ roll.

Fui aluna do meu pai na quinta e na sétima série, mas antes disso as musiquinhas que ele dava em aula e que frequentemente tocavam na minha casa chamaram minha atenção. Sempre gostei de cantar, e quando gostava de uma música, não sossegava enquanto não decorava a letra, fosse em português ou em inglês. Na época – década de oitenta, tá? –, para conseguir as letras era preciso comprar o disco para ter o encarte ou então gravar da rádio e tirar de ouvido, coisa que muito fiz. Mas com Beatles eu tinha aquele tesouro do meu pai, os álbuns duplos, e certo dia decidi desbravá-los. Eu não sabia nada sobre o fenômeno que eles haviam sido, conhecia apenas meia dúzia de músicas, mas por algum motivo eu desconfiei que ali tinha bem mais do que Love Me Do e Hello Good Bye. Não demorou para eu constatar que sim, tinha muito, muito mais. E como até hoje, quando gosto de um disco, de uma banda, de um cantor ou cantora, ouço até cansar, eu devo ter gasto algumas agulhas escutando aqueles discos no três em um.

Logo descobri que os encartes dos álbuns, que continham as letras das músicas, estavam se deteriorando com tanto uso. Foi assim que, por vários dias, talvez semanas, me entretive ouvindo os discos e restaurando cuidadosamente os encartes. Alguns pedaços das letras tinham se rasgado e eu completava no papel, escrevendo a mão o que tirava de ouvido. Desse jeito acabei decorando as músicas e até mesmo as melodias, as notas, os riffs de guitarra, as interjeições, todos os detalhes de quase todas as canções. Até hoje acho que isso contribuiu muitíssimo para o aprimoramento da minha pronúncia no inglês, que é bem boa, modéstia às favas.

E foi assim que os Beatles entraram na minha vida. Nada pomposo, uma história singela, até. Foi unicamente a música deles que me cativou, e não o fato de eles terem sido os maiores de todos os tempos ou coisa do tipo. Nunca fui beatlemaníaca, estou mais para admiradora, alguém que curte, que se identifica, se emociona, se arrepia e se diverte com eles. Os Beatles me fazem lembrar minha infância e a sorte que tive de ter aqueles benditos álbuns dentro de casa. Mais tarde eu pude comprar vários CDs e continuar curtindo os Beatles, agora sim sabendo melhor quem foram aqueles quatro garotos, a importância que tiveram para toda uma geração e que continuam tendo, vide a enorme quantidade de jovenzinhos e de velhinhos no show do último domingo.

Para mim, o fato de Paul McCartney estar vivo e super na ativa era uma coisa, confesso, meio distante, meio, sei lá, nunca tinha parado para pensar no assunto. Vez ou outra lia notícias sobre ele, mas não tinha muita noção do que significava um beatle ter sobrevivido ao tempo e aos próprios Beatles para construir uma carreira irretocável como foi a dele, sem nunca decair, e aos 68 anos ser capaz de fazer um show como o que eu vi no Beira-Rio. A sensação de estar no mesmo ambiente de Paul McCartney, mesmo a muitos metros de distância, foi estranha e impactante. Fui ao show da Madonna em São Paulo e saí de lá com uma lista enorme de reclamações, assisti ao Eric Clapton no Olímpico e foi uma das coisas mais monótonas que já presenciei, e até mesmo os dois shows do meu ídolo-mor, Chico Buarque, vão para a lona perto do que fez Paul, e tudo isso considerando as diferenças óbvias de estilo. Como seria bom se todos os artistas – e veja que poucos podem sequer ser comparados a Paul McCartney – tivessem o entusiasmo, a simpatia, o bom humor, o fôlego que ele teve, a preocupação com a perfeição e em proporcionar o melhor espetáculo possível, de honrar o amor do público e fazer valer cada centavo investido. É um exemplo para toda a classe artística, goste ou não de Beatles e de Paul McCartney. Não há como ignorar.

Vou parar por aqui, porque até eu já estou me achando uma chata. O que queria mesmo era contar a maneira despretensiosa que os Beatles entraram na minha vida, e acabei falando um monte sobre o show. Agora me resta guardar na memória esse momento que foi mágico e... tá, chega.

9 de nov. de 2010

paul, I can't hardly express

Arram, eu fui.

Por enquanto, sigo sem palavras. Quero escrever, expressar, mas é tão difícil. Vai sair, vai sair. Só tenho que conseguir lembrar do show sem ficar com os olhos marejados.

(eu sei, eu sei que o título do post é de uma música de John, mas ele não deve se incomodar com o empréstimo)









Paulinha, Dani e eu :-)