21 de nov. de 2009

mulheres e futebol


Há muito tempo eu não ia ao estádio ver um jogo de futebol. Ontem quebrei o jejum com o pé quente que dei num sorteio da Locaweb, que tem um camarote no Olímpico. Eu podia escolher qualquer jogo do Brasileirão. Deixei passar várias boas partidas até me dar conta de que o campeonato estava acabando. Tive que escolher entre Palmeiras e Barueri. Palmeiras, claro.

Assistir ao jogo do camarote foi bom demais. Eu estava feliz feito pinto no lixo. Mas não era pelo jogo em si. Era por estar ali, fazendo parte daquela festa toda. E, sério, em vez de prestar atenção na partida (que, no máximo, valia a manutenção da invencibilidade no Olímpico), eu fiquei elucubrando sobre esse fenômeno chamado futebol. E resolvi escrever esse post.

Eu acho futebol uma viagem. Muitas mulheres devem sentir o mesmo que eu. Tem umas que são bem fanáticas, discutem, acompanham, sabem a escalação, coisa e tal. Mas o fato é que a igualdade entre os sexos ainda não chegou ao mundo futebolístico. Não por ser um mundo impenetrável, mas sim porque o futebol não consegue ser tão interessante e relevante para as mulheres. E tem ainda o estereótipo do marido atirado no sofá, bebendo cerveja e assistindo a um jogo na TV, ignorando completamente a esposa. Talvez essa seja a melhor explicação para a indiferença das mulheres pelo futebol, afinal, quantas ainda precisam dividir com o esporte a atenção dos homens. É uma competição.
Mas eu não posso dizer que sou indiferente ao futebol, especialmente ao Grêmio. Porque, em todas as vezes que presenciei meu time ser campeão (e até que não foram poucas), eu senti algo. Uma felicidade, uma euforia, maiores até do que nas duas copas que eu vi a Seleção ganhar. E quando o Grêmio estava prestes a ser rebaixado, em 2004, me dava um frio na barriga cada vez que eu pensava nessa possibilidade. Uma sensação de nervoso.

Então não me venha dizer que eu não dou bola pra futebol.

O futebol também é um negócio que me intriga. Desde a maneira tão séria com que os jornalistas e comentaristas falam nos programas de TV e rádio – às vezes eles parecem que estão falando sobre alguma tragédia, como a queda das torres gêmeas ou algo do gênero –, até a experiência sociocultural que é ir ao estádio. No camarote nem tanto, afinal, é nas arquibancadas que as classes, cores e credos se misturam. Só uma coisa não se mistura: o clube do coração. Todos ali, exceto a pequena parte reservada para o adversário, estão motivados pelo mesmo sentimento de amor ao time.

Amor, aliás, é palavra de ordem no estádio. O repertório de músicas da torcida gremista (e de qualquer outra, imagino) é repleto de declarações de amor incondicional. Dessas que poderiam estar na mais romântica canção do Roberto Carlos. Frases como “hoje eu vim te ver, e não importa mais nada”, “um sentimento que me faz amar” e “amor verdadeiro”. Aposto como a maioria daquelas pessoas jamais disse nada parecido para suas namoradas ou namorados. Ser apaixonado por um time de futebol não dá vergonha nem insegurança em ninguém.

E a rapidez com que esses ávidos torcedores percebem e até prevêem os acontecimentos? Eles dizem “que bola!” antes mesmo de a bola chegar ao destino. E se o jogador furar? E se a bola desviar do seu percurso e a jogada nem for assim tão boa? Será que eles não têm aquela ilusão de ótica que faz com que a bola pareça estar indo lá pras cochinchinas, quando na verdade ela vai cair direitinho no pé do jogador? Eles gritam quando a jogada nem está completa, enxergam a falta antes do juiz. São quase adivinhos.

É essa experiência de futebol – que até quem não pratica o esporte tem – que diferencia homens e mulheres como espectadores e torcedores. Deve existir um gene que só os seres do sexo masculino têm, as mulheres são desprovidas dele. Mas nada que as degrade: é apenas uma relação mais light, em que se aproveita quando o time vai bem, e se esquece do assunto quando ele vai mal. É assim que eu me sinto em relação ao Grêmio. E, Grêmio, não se ressinta. Meu amor não é menor por causa disso.