26 de mar. de 2010

2 de mar. de 2010

bons e maus palavrões


O Fredo não gosta que eu fale palavrão. Ele fica chateado, por exemplo, quando a gente discute por bobagem e eu meto um palavrão no meio. Tipo, ah, vai te foder. Ele fica horrorizado, tadinho. Não sei como ele ainda não se acostumou, porque sempre fui meio desbocada.

Mas tem isso, né. Tem gente que não gosta de palavrão. Pessoas que têm os ouvidos sensíveis e acham que dá pra dizer o que se quer sem lançar mão deles. O Fredo mesmo, só fala em situações extremas, como pra xingar alguém no trânsito. "Vai tomar no teu cu" é a expressão preferida nessas ocasiões. E mesmo quando está bem brabo comigo, ele nunca me manda pra lugar nenhum. É um gentleman.

Só que eu acho que o palavrão tem um papel importantíssimo na nossa linguagem. Não adianta, tem coisas que a gente quer falar que só um palavrão consegue materializar. Não dá pra usar outras palavras quando a intenção é mandar alguém "se foder" ou "tomar no cu". Eufemismos como "vai pro inferno" ou "vai te catar" não têm o mesmo impacto.

E tem outra: hoje em dia a gente quase nunca fala palavrão pra insultar alguém. Na maioria das vezes ele serve pra enfatizar alguma coisa. O palavrão perdeu a conotação ofensiva no uso cotidiano. A gente diz que uma coisa é “muito afudê” (ou "a foder", sei lá como se escreve isso) quando achou muito bom, tri legal. Dizer que algo é "foda pra caralho" também é um super elogio. Chamar um amigo de "filho da puta" (ou "fiá da puta") ou a melhor amiga de "puta" não vai arruinar a amizade.

O significado literal dos palavrões, aliás, pode ser objeto de uma análise muito interessante. Por exemplo, "filho da puta" nunca, nunca quer dizer que a mãe do interlocutor trabalha na zona do meretrício. "Vai te foder" nunca significa que eu queira que o outro vá copular. Dizer que alguma coisa "é foda" não quer dizer que ela seja uma relação sexual. "Vai tomar no cu" também não significa que... ahn, você entendeu.

Eu vejo gente muito educada falando palavrão. Digo educada em termos de formação acadêmica mesmo. E pessoas mais velhas. Empresários. Professores. Médicos, advogados. TODOS falam palavrão. "Escrevi uma petição que ficou do caralho". "Hoje o plantão foi foda". "Mas que baita filho da puta, tirou 10 na prova". Sempre com a melhor das intenções.

Eu prefiro palavrões assim, bonzinhos, embora use as duas modalidades com certa frequência. É que a questão não é o mau palavrão em si, mas sim que, se você precisou dele, é porque estava em apuros, meteu-se em alguma situação complicada. E aí o palavrão é o menor dos problemas.

Seja como for, tem horas que só um palavrão consegue exprimir nossas mais profundas emoções - boas ou más.
(que do caralho essa frase)