8 de mar. de 2013

neste dia internacional da mulher, não me parabenize

Até alguns anos atrás, eu implicava com o Dia Internacional da Mulher sem saber direito por quê. Simplesmente não via graça nem sentido nas comemorações nem no tipo de presente ou de mensagem que se recebe nesse dia – que, aliás, cada vez se fortalece mais como data de exploração comercial.

Com o tempo, porém, comecei a entender melhor tanto minha implicância quanto os motivos da data em si. Nasci em 1977. Passei de adolescente a adulta ao longo da década de 1990. Não é o mesmo que nascer ou ser adolescente hoje, mas eu já cresci numa época em que ser mulher era, digamos, ok. Não senti na pele o que sentiram as mulheres que me antecederam. Não posso dizer, infelizmente, que nunca fui vítima de preconceito ou de algum tipo de violência ou assédio, e acho muito difícil que alguma mulher possa dizê-lo, mas é fato que não precisei brigar para ter acesso à universidade e ao mercado de trabalho, por exemplo.

No entanto, eu seria muito ingrata se não reconhecesse o valor das gerações de mulheres que precisaram, sim, lutar por isso e até mesmo por direitos muito mais prosaicos, como usar calças compridas, sair sozinhas à noite ou fazer sexo com quem bem entendessem.

É disso, afinal, que trata o Dia Internacional da Mulher.

O Dia Internacional da Mulher não é – repito em caixa alta, NÃO É – uma tentativa de afirmar uma suposta superioridade feminina em relação ao homem, como alguns costumam dizer por aí. E tampouco é uma data para reconhecer a beleza da mulher ou qualquer outro estereótipo relacionado ao gênero. O Dia Internacional da Mulher existe para exaltar as conquistas das mulheres por igualdade de direitos.

Quem pensa que a luta feminista é uma luta por qualquer tipo de superioridade não sabe nada sobre feminismo. A mulher atravessou a História sendo considerada (e tratada como) um ser inferior. Portanto, sua luta é pela igualdade perante os homens, é por gozar dos mesmos direitos aos quais eles sempre tiveram acesso sem precisar mover um único dedo.

Não compreender o Dia Internacional da Mulher nesse aspecto é como não entender as comemorações do Dia da Consciência Negra. Há os que defendem a instituição de um “dia do homem”, assim como há os que sugerem o “dia da consciência branca” ou coisa que o valha. Não vou nem entrar no mérito da ignorância que existe nessas ideias – é constrangedor demais. Vou apenas pedir que, neste 8 de março, todos nós – incluindo as mulheres – prefiramos ficar quietos a reproduzir as bobagens que circulam todo ano nessa data.

Para começar, não me dê parabéns por ser mulher – isso seria o mesmo que me parabenizar por ter olhos castanhos ou calçar 36. Não me diga que hoje é meu dia, mas que todos os outros são seus – até porque essa piada tem um cruel fundo verdadeiro. Não agradeça ao meu gênero por tornar o mundo mais belo – ao contrário do que parece, isso não é nada lisonjeiro.

E também não diga que nós não precisamos mais de um dia especial, pois já conquistamos tudo o que queríamos. Isso é uma falácia. Basta acompanhar as páginas policiais de qualquer jornal para descobrir que o assassinato e o espancamento de mulheres por seus companheiros, maridos ou ex-maridos são uma rotina – e a recíproca não é verdadeira. Isso para ficar apenas em exemplos da esfera criminal.

Portanto, reserve as rosas para o Dia das Mães. O Dia Internacional da Mulher não combina com elas.


(Aproveito para compartilhar links de bons textos sobre o tema: a sempre ótima Clara Averbuck, a Aline Valek (indicado pela Clara), o manual de feminismo para homens do Alex Castro e um post de 2008 da Cynthia Semíramis que me ajudou a escrever esta crônica.)

*Escrevi esta crônica antes da polêmica e equivocada campanha da Prefeitura de Porto Alegre para o Dia da Mulher. Sim, uma campanha institucional da prefeitura de uma capital brasileira, feita para ser viralizada nas redes sociais. E foi, só que o tiro saiu pela culatra. Repúdio geral. Na imagem abaixo, uma provinha do "bom humor" do pessoal de criação do Sr. Fortunati. (Eu não votei nele!)


 Campanhas como a da Prefeitura de Porto Alegre só ajudam a reforçar os estereótipos ligados ao gênero feminino. O Dia Internacional da Mulher NÃO É sobre isso.