25 de ago. de 2010

em respeito à memória de renato russo

Ontem o Multishow fez o desfavor de "homenagear" o Legião Urbana colocando o Vitor e Léo (quem?) e a Claudia Leitte (ã?) cantando a música Pais e Filhos. Putaquemepariu. Foi um dos shows do Prêmio Multishow de Música Brasileira, que, aliás, já teve dias melhores. Mas enfim, que o Multishow abra espaço para o Luan Santana (hein?) e o Fiuk (o mundo se contentaria só com um Fábio Junior, nénão?), eu até entendo, agora fazer isso com o Renato Russo, avápá... vergonha alheia, vergonha, vergonha.
Pais e Filhos foi e talvez ainda seja o maior hino adolescente da história. Eu ouvia essa música na minha adolescência e ela falava diretamente comigo, era feita pra mim. Pra mim e pra todos os que tinham a minha idade no Brasil inteiro. O Legião e o Renato Russo tinham isso, falavam a língua do público. Fizeram coisas maravilhosas. Tem gente que acha depressivo. Eu acho autêntico. Visceral. Legião é rock, é poesia, é crítica social, é soco no estômago. Que falta faz tudo isso na música brasileira de hoje.
Agora mesmo resolvi ouvir o CD Legião Urbana V, aquele da capa branca com letras douradas. Tenho ele até hoje. Está escrito no encarte: 17/10/1992. Dezoito anos. Uau... Provavelmente ganhei de aniversário, não lembro. Mas lembro que o escutei infinitas vezes. Ainda sei as letras decor. Até mesmo a da faixa número 2, Metal Contra as Nuvens, que tem mais de 11 minutos de duração. Cantei ela inteirinha no show que fui no Gigantinho, em 1994. Na época tive a nítida sensação de ser a única pessoa que sabia cantar aquela música. Acho que poucos tinham paciência de ouvi-la. Eu tinha. Sabia até mesmo as canções instrumentais, acompanhava com a mente cada nota, cada acorde. Eu era assim na adolescência, ouvia um mesmo disco até furar. Mas não furou, tanto é que esse me acompanha há longos dezoito anos.
Esse disco, o Wikipedia acaba de me contar, reflete a crise econômica causada pelo plano Collor e a dependência química de Renato. Interessante saber disso agora. Porque na época eu não me dava conta. Mas me emocionava, mesmo não entendendo bem o que as letras significavam. Não são letras fáceis. Duas delas me chamaram particular atenção hoje: a música-para-suicídio Vento no Litoral e a meiga, alto astral, romântica e bem-humorada O Mundo Anda Tão Complicado. Uma contraposição perfeita. Me fizeram ir às lágrimas indagorinha.
Renato Russo morreu uns anos depois. Não lembro bem o que senti quando soube. Mas foi estranho porque menos de dois anos antes eu o tinha visto muito de perto, nesse show do Gigantinho. Um show histórico, aliás. Histórico pra banda e pra mim também. Fomos eu e o Sandro, meu amigo, meu parceiro de momentos inesquecíveis como esse que foi ver Legião Urbana em Porto Alegre. Algumas pessoas viram Cazuza, outras viram Elis Regina, outras viram Cássia Eller. Eu vi o Renato Russo. Ídolo.
Pois tudo isso para dizer que as músicas do Legião continuam tocando adolescentes e adultos até hoje, mas se o Multishow insistir em colocá-las na boca de artistas de quinta categoria (e eu acho que "artistas de quinta categoria" é até elogio para os charlatões em questão), vai contribuir para que o legado de uma das maiores bandas brasileiras de todos os tempos seja confundido com música de quinta também. Ora, faça-me o favor, Multishow!

7 de ago. de 2010

se eu morasse em Amsterdam

Se eu morasse em Amsterdam
Teria uma bicicleta preta
E andaria de motoca
Só nos dias de dondoca

Se eu morasse em Amsterdam
Falaria inglês com fluência
E conversaria na língua pátria
Só com amigos de infância

Se eu morasse em Amsterdam
Viveria à beira de um canal
Haveria flores em minha porta
Onde esperaria o jornal

Se eu morasse em Amsterdam
Nunca daria chilique
Se visse o povo na rua
Muito louco de haxixe

Se eu morasse em Amsterdam
Talvez me chamasse Ana
E teria uma grande amiga
Chamada Maria Joana

Se eu morasse em Amsterdam
Seria amiga da polícia
E frequentaria a zona
Mas não me interprete com malícia!

(Fernanda Vier em duvidoso momento de inspiração poética)

6 de ago. de 2010

sobre ler de pijamas durante a semifinal da libertadores

Antes do final do primeiro tempo, já 1x0 para os são-paulinos, resolvi ir pra cama, não para dormir, mas para ler. Em dia de jogo importante passando na TV aberta, me senti uma pessoa única, no sentido de ser a única pessoa do mundo (ou de Porto Alegre e de São Paulo) a estar na cama de pijamas lendo um livro. Quantos estariam na mesma situação que eu? Chuto que bem poucos. Peguei o calhamaço de contos brasileiros e reli um da Clarice Lispector. É sempre bom reler Clarice, pra ter certeza.

Quando começou o segundo tempo, fiquei tentando adivinhar o que se passava. Não é difícil, basta interpretar os sons que vêm da rua. Um vizinho gritou desafinada e desesperadamente, e seus gritos foram seguidos de buzinas, vuvuzelas e muitos outros gritos. Gol do Inter. Instantes depois, não foi tão fácil de entender. Mais gritos, o desespero do mesmo vizinho, mas era um desespero diferente. Achei que pudesse ser rescaldo do primeiro gol, mas eis que o Fredo se abala da sala ao quarto para me transmitir as boas-novas: 2x1 para o São Paulo. Não era suficiente, mas bastava um golzito para tirar os colorados da final da Libertadores. Comemorei timidamente de baixo dos edredons e disse então tá, acho que vai rolar.

Silêncio. Olhos pesados. Guardei o livro, desliguei o abajur e deixei o sono me levar. Não demorou para o Fredo vir juntar-se a mim. E aí?, perguntei, semidormindo. Ficou em 2x1. Tsc, tsc, tsc. São Paulo incompetente. Sempre perde pros gaúchos, afinal. Boa noite.