20 de mai. de 2013

como destruir um editorial da revista Época

Não importa de que modo, num dia qualquer do mês de maio de 2013, o editorial da revista Época de 22 de outubro de 2012 veio parar nas minhas mãos - logo eu, que raramente perco meu tempo lendo revistas desse tipo. O fato é que o texto e eu tivemos um encontro marcante, para dizer o mínimo. E eu terminei a leitura achando que ele merecia uma resposta. Uma desconstrução. Uma destruição. 

Fiz como exercício, afinal, estou me preparando para ser professora de Português e Literatura, uma profissão em que é fundamental saber analisar um texto, entender como foi construído um discurso, identificar sua estrutura argumentativa, suas fragilidades. Devo dizer que foi divertido. E me ajudou a consolidar uma opinião que eu já tinha. Pena que o prezado editorialista, que eu não tenho ideia de quem seja, não vai ler. Mas, mesmo assim, tá valendo.

(O texto na íntegra, sem interrupções, está no final do post.)

A ETERNA FALÁCIA DAS COTAS (De falácia o editorialista entende. Vamos a elas.)
Editorial da Revista Época de 22 de outubro de 2012
O governo federal planeja anunciar, em novembro, a adoção de cotas para negros no funcionalismo público federal. Apenas para esclarecer, a lei ainda não foi aprovada. Mas isso não invalida a análise do texto. A cada concurso, um determinado número de vagas será reservado a candidatos de acordo com a cor de sua pele. Eles terão de fazer as provas como todos, mas suas chances serão diferentes. Trata-se de uma consequência do Estatuto da Igualdade Racial, aprovado em 2010, a primeira lei em mais de um século que distingue brasileiros por sua cor. Sim, porque antes dela havia outra, chamada escravidão, é sempre bom explicitar. Prossiga, senhor editorialista.
É inegável que negros sofrem preconceito no Brasil e, por isso, vivem em condições sociais mais desfavoráveis. Só por causa do preconceito? Não seria também porque a abolição da escravatura teve motivações, sobretudo, econômicas (pois manter escravos tornara-se mais caro do que explorar a mão de obra barata dos imigrantes que desembarcavam aos milhões no país)? Porque os escravos foram libertos sem nenhum tipo de apoio ou estrutura que os acolhesse? Não seria porque o Brasil nunca fez nada de concreto para realmente integrar essas pessoas à sociedade? Parece-me que preconceito, meu caro editorialista, não é o único problema aqui. Não há evidências, porém, de que a garantia de espaço no funcionalismo público ou nas universidades seja uma maneira eficaz de acabar com isso. Mesmo? Cadê os dados, cadê as estatísticas? Onde estão as evidências de que não há evidências? Que feio, senhor editorialista, apresentar uma ideia assim tão abstrata em um texto como este. Vamos ver o se isso se confirma no decorrer do texto. A política de cotas promete criar apenas mais uma distorção na já ineficiente máquina estatal brasileira. Se ela já é ineficiente com maioria branca, imagine se houver maior equilíbrio entre brancos e negros! O horror, o horror!
A justificativa recorrente de “movimentos sociais” desculpe a súbita interrupção, mas por que as aspas? Não é termo estrangeiro, ênfase não se justifica... Ah, entendi, é para ironizar! Sim, as aspas têm esse poder, e o autor bem o sabe. Aqui, as aspas estão dizendo que os movimentos sociais não são dignos de respeito. Afinal, eles não representam o prezado editorialista! Deveria haver movimentos sociais para defender a pobre classe média branca brasileira, tão sofrida, tadinha... para a adoção de políticas de cotas é a necessidade de corrigir a injustiça provocada pelo passado escravocrata brasileiro. É uma visão simplista de uma questão complexa. Aqui o leitor espera que o texto explique qual é a questão supercomplexa que esse povo dos movimentos sociais simplifica tanto. Vejamos se a expectativa se confirma. A genética mostra que o brasileiro é essencialmente mestiço. Jura? Acho que o pessoal ali de Morro Reuter não concorda... Brancos têm genes de negros e vice-versa. Acreditar que os negros brasileiros de hoje são descendentes dos escravos é falta de conhecimento. Hmmm, vamos tentar seguir o raciocínio do autor: se todo brasileiro é mestiço, então TODO BRASILEIRO É DESCENDENTE DE ESCRAVOS. Sendo assim, as cotas deveriam ser para TODOS OS BRASILEIROS. Mas cotas para todos seria o mesmo que para ninguém, então, o Brasil não precisa de cotas! Nossa, como eu nunca tinha pensado nisso antes! Agora falando sério: o dileto editorialista acha que as cotas não têm nada a ver com a cor da pele da pessoa, mas sim com a genética, é isso? O fato de muitos brasileiros de pele branca como a neve terem algum antepassado negro é suficiente para desancar a política de cotas? Meu senhor, veja bem: a pessoa branca não sofre preconceito racial, mesmo que seus genes guardem ascendência africana. É por isso que a teoria – esta sim, simplista – da genética mestiça do brasileiro não cola. Para terminar, vou só reproduzir o que ouvi certa vez de uma professora negra: vista a minha pele antes de falar qualquer coisa. Vista a minha pele. A união de cotas e emprego público formaliza apenas duas compulsões nacionais: por garantir um espaço econômico com menor concorrência e por pendurar-se no Estado. Afinal, aquele emprego público que paga bem e exige pouco nunca foi um sonho da classe média branca! (Ou então: Socorro! Vão pegar as nossas vagas!) A partir de 1988, a exigência de concursos consolidou um procedimento civilizado para selecionar funcionários. Apesar do ainda elevado número de cargos que podem ser preenchidos por critérios políticos, a maioria dos servidores é escolhida com base no mérito e na competência. Mas o mérito não pegou no Brasil. Mérito de quem, cara-pálida? De quem estudou nas melhores escolas, teve acesso a cursos preparatórios, pôde ficar em casa por meses ou anos só estudando porque tinha quem bancasse o cafezinho de cada dia? Ah tá, só pra saber. E outra coisa: se é concurso – tanto para universidades quanto para o serviço público –, o critério de seleção continua sendo o mérito, certo? Aliás, nos vestibulares, as notas dos cotistas estão cada vez mais se equiparando às da ampla concorrência. E aqueles que ingressam no curso superior pelo sistema de cotas são, sem dúvida, os melhores. Isso tudo, que eu saiba, ainda se chama mérito. Recomendo ao editorialista a leitura desta matéria da revista IstoÉ, e aproveite para monitorar a concorrência:  http://www.istoe.com.br/reportagens/288556_POR+QUE+AS+COTAS+RACIAIS+DERAM+CERTO+NO+BRASIL.
Desde o início das discussões sobre cotas, seus defensores buscavam espaço em universidades e empregos públicos. É curioso que se tente privilegiar o ingresso nos dois últimos passos do caminho profissional, em vez de tentar resolver as deficiências crônicas do ensino fundamental e médio - incapaz de garantir a igualdade de oportunidade tão preconizada pelos movimentos sociais. Olha, senhor editorialista, eu não discordo totalmente desta afirmação, mas tem um probleminha: uma coisa não exclui a outra, certo? Vamos esperar quanto tempo até as deficiências crônicas da escola serem sanadas? É lógico que a educação brasileira precisa melhorar, muito e urgentemente, mas enquanto isso não acontece, as políticas sociais – e aí se pode incluir também o Bolsa Família, as cotas para egressos de escolas públicas, o próprio ProUni e outras tantas – vão, gradativamente, reduzindo as desigualdades. Estou certa de que o senhor é muito bem-informado, acompanha os noticiários e sabe do que estou falando. Portanto, fazendo o favor, aceite que ações afirmativas sejam implantadas sem depender de soluções que levarão muito tempo para ocorrer. Pode não ser o ideal, mas é alguma coisa, o que sempre é melhor do que nada. Será que seus integrantes aceitariam trocar as cotas raciais em universidades ou no serviço público por cotas sociais para crianças pobres nas melhores escolas no ensino fundamental ou médio? Não é uma questão de trocar uma por outra, ler acima. Se isso ocorresse, as crianças teriam tempo de aprender e, mais tarde, por seu próprio esforço e mérito, disputar vestibulares e concursos públicos sem precisar da garantia de preferência pela cor da pele. O senhor certamente já ouviu falar que essas políticas não foram pensadas para serem eternas, não é? Chegará o momento em que elas poderão ser extintas – quando a discrepância, que hoje ainda é alarmante, for mínima ou nenhuma. Mas para isso acontecer, as cotas são necessárias, pois, sem elas, a discrepância não será reduzida. Enfim, o senhor entendeu. É uma gritante questão de lógica.
As cotas raciais foram adotadas nos Estados Unidos na década de 1970, como forma de corrigir distorções causadas por 80 anos de política segregacionista. Hum, fale mais sobre isso. Foram abandonadas por decisão da Suprema Corte. Mesmo? E foram abandonadas porque não deram certo? Ou porque foram criadas há mais de 40 anos e, hoje, a distância entre as classes médias branca e negra nos EUA já não é mais tão grande assim? Senhor editorialista, acho que faltou contextualizar melhor. Primeiro, comparar alhos com bugalhos em uma frase tão simples como a sua é complicado. Nos EUA, para começar, não existe vestibular. Os critérios de ingresso na universidade são bem diferentes dos nossos. E embora o país não tenha banido completamente o racismo, há uma presença muito maior de negros em altos cargos públicos e privados, incluindo... o presidente! Que, por sinal, foi beneficiado pelo sistema de cotas quando era estudante. E o debate sobre ações afirmativas nos EUA não se esgotou, como o senhor dá a entender. Na África do Sul, provavelmente o caso mais brutal da história, elas surgiram ao final do regime do apartheid como forma de integrar os negros. Recentemente, migrantes chineses obtiveram o direito de ser incluídos no sistema. Ah tá, preconceito contra os chineses também, agora? Na índia, as castas disputam a tapa o direito de entrar em alguma cota. E isso é necessariamente ruim? De novo, faltou informação. O Brasil republicano, que nunca separou as pessoas pela cor da pele, perdão pela interrupção repentina de novo... Só faltou dizer que não existe racismo no Brasil, hein? Se bem que, de certa maneira, está dito. Senhor editorialista, vou lhe fazer umas perguntinhas: quantos colegas negros você teve na universidade? Os lugares que o senhor frequenta – clubes, restaurantes, hotéis, etc. – são frequentados também por negros? E será mero acaso o fato de 90% ou mais da população das favelas brasileiras ser negra? Nas empresas em que já trabalhou, quantos colegas negros – do mesmo nível hierárquico, ok? – o senhor teve? Como eu já sei as respostas, faço outra pergunta: isso não é separar pessoas pela cor da pele? Pode não estar na lei, pode não ser um regime oficial, mas é velado, está aí, está em textos como o seu, está escondido nesse discurso de que o Brasil é um país tolerante, mestiço, que aceita e trata bem todas as raças. ISSO é o que eu chamo de FALÁCIA. trilha agora esse caminho, em vez de aprender com os erros e acertos de quem já andou por aí e teve de voltar atrás. O erro do Brasil, a meu ver, foi não ter implantado antes políticas sociais – incluindo as raciais – que promovessem a igualdade e a cidadania das minorias. Mas, como se diz por aí, antes tarde do que nunca. E não é por textos preconceituosos como este, caro editorialista da revista Época, que aqueles que acreditam nisso vão desistir. Os movimentos sociais que o senhor tanto despreza, ou mesmo gente que não faz parte de movimento algum, mas que, por algum motivo que o senhor talvez seja incapaz de entender, não está preocupada apenas com o seu próprio umbigo, gente que deseja mudanças e não as teme, que acredita nos direitos humanos e na verdadeira igualdade... essa gente está aí, senhor editorialista, para desconstruir discursos como o seu.
Abaixo o texto na íntegra, sem minhas interrupções.
A ETERNA FALÁCIA DAS COTAS
Editorial da Revista Época de 22 de outubro de 2012
O governo federal planeja anunciar, em novembro, a adoção de cotas para negros no funcionalismo público federal. A cada concurso, um determinado número de vagas será reservado a candidatos de acordo com a cor de sua pele. Eles terão de fazer as provas como todos, mas suas chances serão diferentes. Trata-se de uma consequência do Estatuto da Igualdade Racial, aprovado em 2010, a primeira lei em mais de um século que distingue brasileiros por sua cor.
É inegável que negros sofrem preconceito no Brasil e, por isso, vivem em condições sociais mais desfavoráveis. Não há evidências, porém, de que a garantia de espaço no funcionalismo público ou nas universidades seja uma maneira eficaz de acabar com isso. A política de cotas promete criar apenas mais uma distorção na já ineficiente máquina estatal brasileira.
A justificativa recorrente de “movimentos sociais” para a adoção de políticas de cotas é a necessidade de corrigir a injustiça provocada pelo passado escravocrata brasileiro. É uma visão simplista de uma questão complexa. A genética mostra que o brasileiro é essencialmente mestiço. Brancos têm genes de negros e vice-versa. Acreditar que os negros brasileiros de hoje são descendentes dos escravos é falta de conhecimento. A união de cotas e emprego público formaliza apenas duas compulsões nacionais: por garantir um espaço econômico com menor concorrência e por pendurar-se no Estado. A partir de 1988, a exigência de concursos consolidou um procedimento civilizado para selecionar funcionários. Apesar do ainda elevado número de cargos que podem ser preenchidos por critérios políticos, a maioria dos servidores é escolhida com base no mérito e na competência. Mas o mérito não pegou no Brasil.
Desde o início das discussões sobre cotas, seus defensores buscavam espaço em universidades e empregos públicos. É curioso que se tente privilegiar o ingresso nos dois últimos passos do caminho profissional, em vez de tentar resolver as deficiências crônicas do ensino fundamental e médio - incapaz de garantir a igualdade de oportunidade tão preconizada pelos movimentos sociais. Será que seus integrantes aceitariam trocar as cotas raciais em universidades ou no serviço público por cotas sociais para crianças pobres nas melhores escolas no ensino fundamental ou médio? Se isso ocorresse, as crianças teriam tempo de aprender e, mais tarde, por seu próprio esforço e mérito, disputar vestibulares e concursos públicos sem precisar da garantia de preferência pela cor da pele.
As cotas raciais foram adotadas nos Estados Unidos na década de 1970, como forma de corrigir distorções causadas por 80 anos de política segregacionista. Foram abandonadas por decisão da Suprema Corte. Na África do Sul, provavelmente o caso mais brutal da história, elas surgiram ao final do regime do apartheid como forma de integrar os negros. Recentemente, migrantes chineses obtiveram o direito de ser incluídos no sistema. Na índia, as castas disputam a tapa o direito de entrar em alguma cota. O Brasil republicano, que nunca separou as pessoas pela cor da pele, trilha agora esse caminho, em vez de aprender com os erros e acertos de quem já andou por aí e teve de voltar atrás.

8 de mar. de 2013

neste dia internacional da mulher, não me parabenize

Até alguns anos atrás, eu implicava com o Dia Internacional da Mulher sem saber direito por quê. Simplesmente não via graça nem sentido nas comemorações nem no tipo de presente ou de mensagem que se recebe nesse dia – que, aliás, cada vez se fortalece mais como data de exploração comercial.

Com o tempo, porém, comecei a entender melhor tanto minha implicância quanto os motivos da data em si. Nasci em 1977. Passei de adolescente a adulta ao longo da década de 1990. Não é o mesmo que nascer ou ser adolescente hoje, mas eu já cresci numa época em que ser mulher era, digamos, ok. Não senti na pele o que sentiram as mulheres que me antecederam. Não posso dizer, infelizmente, que nunca fui vítima de preconceito ou de algum tipo de violência ou assédio, e acho muito difícil que alguma mulher possa dizê-lo, mas é fato que não precisei brigar para ter acesso à universidade e ao mercado de trabalho, por exemplo.

No entanto, eu seria muito ingrata se não reconhecesse o valor das gerações de mulheres que precisaram, sim, lutar por isso e até mesmo por direitos muito mais prosaicos, como usar calças compridas, sair sozinhas à noite ou fazer sexo com quem bem entendessem.

É disso, afinal, que trata o Dia Internacional da Mulher.

O Dia Internacional da Mulher não é – repito em caixa alta, NÃO É – uma tentativa de afirmar uma suposta superioridade feminina em relação ao homem, como alguns costumam dizer por aí. E tampouco é uma data para reconhecer a beleza da mulher ou qualquer outro estereótipo relacionado ao gênero. O Dia Internacional da Mulher existe para exaltar as conquistas das mulheres por igualdade de direitos.

Quem pensa que a luta feminista é uma luta por qualquer tipo de superioridade não sabe nada sobre feminismo. A mulher atravessou a História sendo considerada (e tratada como) um ser inferior. Portanto, sua luta é pela igualdade perante os homens, é por gozar dos mesmos direitos aos quais eles sempre tiveram acesso sem precisar mover um único dedo.

Não compreender o Dia Internacional da Mulher nesse aspecto é como não entender as comemorações do Dia da Consciência Negra. Há os que defendem a instituição de um “dia do homem”, assim como há os que sugerem o “dia da consciência branca” ou coisa que o valha. Não vou nem entrar no mérito da ignorância que existe nessas ideias – é constrangedor demais. Vou apenas pedir que, neste 8 de março, todos nós – incluindo as mulheres – prefiramos ficar quietos a reproduzir as bobagens que circulam todo ano nessa data.

Para começar, não me dê parabéns por ser mulher – isso seria o mesmo que me parabenizar por ter olhos castanhos ou calçar 36. Não me diga que hoje é meu dia, mas que todos os outros são seus – até porque essa piada tem um cruel fundo verdadeiro. Não agradeça ao meu gênero por tornar o mundo mais belo – ao contrário do que parece, isso não é nada lisonjeiro.

E também não diga que nós não precisamos mais de um dia especial, pois já conquistamos tudo o que queríamos. Isso é uma falácia. Basta acompanhar as páginas policiais de qualquer jornal para descobrir que o assassinato e o espancamento de mulheres por seus companheiros, maridos ou ex-maridos são uma rotina – e a recíproca não é verdadeira. Isso para ficar apenas em exemplos da esfera criminal.

Portanto, reserve as rosas para o Dia das Mães. O Dia Internacional da Mulher não combina com elas.


(Aproveito para compartilhar links de bons textos sobre o tema: a sempre ótima Clara Averbuck, a Aline Valek (indicado pela Clara), o manual de feminismo para homens do Alex Castro e um post de 2008 da Cynthia Semíramis que me ajudou a escrever esta crônica.)

*Escrevi esta crônica antes da polêmica e equivocada campanha da Prefeitura de Porto Alegre para o Dia da Mulher. Sim, uma campanha institucional da prefeitura de uma capital brasileira, feita para ser viralizada nas redes sociais. E foi, só que o tiro saiu pela culatra. Repúdio geral. Na imagem abaixo, uma provinha do "bom humor" do pessoal de criação do Sr. Fortunati. (Eu não votei nele!)


 Campanhas como a da Prefeitura de Porto Alegre só ajudam a reforçar os estereótipos ligados ao gênero feminino. O Dia Internacional da Mulher NÃO É sobre isso.

11 de fev. de 2011

estatuto amigos do rosa

O Estatuto Amigos do Rosa foi escrito e enviado por minha querida e sempre criativa amiga Isadora Badi exatamente no dia 24 de fevereiro do ano 2000, poucos dias antes de nossa ida à Praia do Rosa para um inesquecível carnaval. Naquele ano, o feriado também caiu em março, como agora, 11 anos depois. Lembro que houve sol, chuva e, lógico, muita bebedeira, como deixa claro o estatuto. Que, aliás, foi cumprido a risca.

O legal é que se essa turma se reunisse novamente hoje, não seria muito diferente. Infelizmente esse encontro jamais se repetirá com a mesma configuração, pois muita coisa aconteceu nesses anos todos, pessoas espalhadas pelo mundo, alguns casais desfeitos, enfim... Mas fica a deliciosa lembrança, graças ao Fredo que, não sei como, resgatou esse e-mail das profundezas do Outlook.

ESTATUTO AMIGOS DO ROSA
O desrespeito à qualquer uma dessas regras básicas para o bem estar de todos os membros da comunidade implicará no afastamento imediato do verme que desobedecê-las.
1. Sempre que sujar, limpe.
2. Sempre que cair, levante.
3. Misturarás fermentados com destilados.
4. Ao devolver o que bebeu de volta à natureza, trate de respeitar o travesseiro ou o prato do colega.
5. Não desejarás a ceva do próximo.
6. Amarás o whisky como a ti mesmo.
7. Não invocarás o nome de Hugo em vão.
8. Não cometerá atos libidinosos ou nojentos em público, que possam vir a causar vergonha ou constrangimento nos outros componentes do grupo.
9. Não beberás suco, refrigerante (água, então, nem pensar) que possam comprometer sua (in)sanidade física.
10. Não estarás mais de 17min e 42seg.  sóbrio.
11. Não te lembrarás de quase nada ao final das atividades carnavalescas.
12. Manterás as ceva gelada e praticarás o exorcismo no infeliz que tomá-la quente.
13. Não te arrependerás dos teus atos, afinal, tudo na vida acontece po vontade de uma força superior.

SIM, eu prometo respeitar as diretrizes impostas pelo patrocinador do evento e concordo com a punição em caso de desobediencia:

(não lembro quem era o "patrocinador", acho que o e-mail tinha uma foto, mas isso se perdeu. será que alguém lembra???)

27 de dez. de 2010

uma biografia em tempo real


Nesse feriado de Natal, calorão em Porto Alegre, o sábado à tarde convidava para um cineminha. O filme foi escolhido mais pelo horário do que pelo título, mas não me arrependi: A Rede Social.

O legal desse filme é que ele retrata o hoje. Não porque tem efeitos especiais e usa os mais modernos recursos da computação gráfica - aliás, não usa absolutamente nenhum. A história é um retrato dessa geração frenética e online da qual fazemos parte, da cada vez maior virtualização das relações. Mostra como nasce uma grande ideia e que ela pode não ser tão original quanto parece - é uma transformação de outras ideias, de coisas que já existiam ou que precisavam de um toque de genialidade para dar certo. O inventor do Facebook é uma mente privilegiada, não há dúvida. Mas teve condutas pra lá de questionáveis. E tudo porque queria ser popular na faculdade, o que me leva a pensar que o que move guris e gurias a realizarem empreendimentos louváveis ou cometerem besteiras incalculáveis é o mesmo em qualquer lugar do mundo e em qualquer época: reconhecimento. Ou, para simplificar: chamar a atenção da(o) gostosa(o) da escola. Mais simples ainda: se dar bem.

O interessante é que Mark Zuckerberg não pega ninguém o filme inteiro. A história começa com ele levando um fora da namorada - num diálogo que tonteia qualquer um - e termina com ele mandando um convite para ela via Facebook. O lance deles ficou mal-resolvido - será que Erica Albright deu uma chance ao garoto? E será que o zilionário Mark consegue se dar bem com as garotas e ser um ser humano mais sociável? Essas perguntas o filme não chega a responder, porque são coisas que estão acontecendo nesse exato momento.

Em tempos de biografias lançadas por celebridades que não atingiram duas décadas de vida, A Rede Social tem o mérito de contar uma história relevante para bem mais do que os 500 milhões de usuários do Facebook - e que ainda está bem longe de terminar.

17 de dez. de 2010

homem que xinga mulher

Hoje me peguei tuitando uma frase que me tomou de assalto: 

Homem xinga mulher de vagabunda e mal-comida. O que está por trás disso: ele come mal a mulher dele e ela está dando pra outro. Certo.

Duas coisas me levaram a escrever isso. A primeira é que fui vítima, há alguns dias, de tais xingamentos. A outra é que li um post do Alex Castro que não permite a ninguém ficar em cima do muro a respeito de temas polêmicos como machismo e feminismo.

Vou tentar resumir a história: eu estava prestes a atravessar uma rua, de mão única e pista dupla, no bairro Jardim Botânico, em Porto Alegre. Havia uma faixa de pedestres naquele ponto, mas sem semáforo. Eu estava ainda na calçada e um motorista, querendo ser gentil ou simplesmente respeitar a faixa, parou para eu passar. Mas lá atrás vinha um carro numa velocidade um pouco alta e eu, cautelosa, esperei para ter certeza de que poderia cruzar a rua com segurança. O motorista que vinha correndo se deu conta do outro carro parado e decidiu parar também, abruptamente. O problema é que o que vinha logo atrás dele não conseguiu frear a tempo e bateu.

Tudo aconteceu em segundos. Eu me mantive na calçada, aguardando o desfecho - que deveria ter sido apenas poder atravessar a rua, mas não foi. O carro que parou primeiro não foi afetado e o motorista resolveu escapar dali rapidinho. Eu, depois do susto, saí andando, meio nervosa. Não gostaria que nada daquilo tivesse acontecido.

Mas o motorista do carro que sofreu a batida achou que alguém deveria levar a culpa pelos estragos. E desatou a proferir os mais inacreditáveis impropérios. Começou perguntando "vai pagar o conserto, vagabunda?" e terminou com "eu devia ter te atropelado, vadia mal-comida, o que te falta é um pau bem grosso, sua vagabunda". 

Pois é.

Eu não tenho sangue de barata e rodo a baiana sempre que acho necessário, mas dessa vez decidi cair fora sem olhar pra trás. Se esse cara era capaz de me xingar assim, bem possível que tivesse uma arma no porta-luvas ou que me desse um soco na cara sem o menor constrangimento. Eu é que não ia me arriscar. O máximo que consegui foi olhar pra ele e dizer "ah tá, era só o que me faltava". Mas vendo os olhos cheios de ódio do tal sujeito, tomei meu caminho.

Poderia esse post ser sobre a segurança no trânsito, faixa de pedestres e tal. Mas o mais incrível nessa história, pra mim, não foi o incidente em si, mas o repertório do cara. Não foi a primeira vez que ouvi um homem ofender uma mulher desconhecida dessa maneira. Eu mesma já fui vítima em outras ocasiões. Lembro-me especialmente de uma - e que também foi no trânsito, por que será? - em que eu não deixei entrar na minha frente (dessa vez eu estava dirigindo) um motorista que estava na contramão dando uma de malandrinho para escapar de um congestionamento. Claro que eu não teria feito isso se o cara estivesse prestes a ser esmagado por um Scania, mas não era o caso. Esse senhor colocou o carro dele bem ao lado do meu, abriu o vidro e me chamou de "bocetuda". Dependendo do contexto isso até poderia ser um elogio de gosto duvidoso, mas não, era um xingamento.

Então eu fiquei a pensar por que certos homens gostam de ofender as mulheres acusando-as de vagabundas e afirmando que suas vidas sexuais não são boas. Será que eles acham que isso é o que de mais terrível pode acontecer a uma mulher? Ou será que eles estão apenas projetando nesse insulto algo que os incomoda, talvez inconscientemente: eles não são capazes de dar prazer às suas próprias mulheres, fazem sexo como se fossem máquinas de ejacular, e lá no fundo sabem que elas são insatisfeitas e que, quem sabe (tomara!), estão considerando seriamente a hipótese de colocar-lhes um belo e merecido par de chifres?

Não quero generalizar, até porque não são todos os homens que xingam mulheres dessa forma, mas um cara que diz uma coisa dessas no calor de uma discussão ou de uma situação de estresse deve ter algum problema. Com tantas outras coisas para dizer – sem contar a opção de não dizer nada, porque ele não estava com a razão –, ele escolhe justamente isso.

Por outro lado, dia desses, em conversa com duas amigas, uma delas contou que xingou um motorista (ó o trânsito de novo...) que buzinou quando o sinal tinha recém aberto, o apressadinho. E ela o chamou de "piça curta"! Poderíamos deduzir, usando a mesma lógica, que minha amiga disse tal coisa porque está descontente com o tamanho do pênis de seu namorado, marido, comedor ou o que for? Difícil. É claro que ela não sabia o tamanho do membro do cara, mas certos comportamentos tipicamente masculinos, como dirigir em alta velocidade, fazer manobras perigosas, querer estar sempre na frente e ser esquentado e brigão, são comumente associados a uma necessidade de compensação. O cara pode até nem ter o pau pequeno, mas a pergunta que fica é: por que ele precisa tanto se autoafirmar com atitudes violentas, arriscadas, grosseiras? Alguma frustração ele deve ter.

Daí vem o Alex Castro falar sobre machismo e feminismo e eu concluo que o cara que tenta atingir a dignidade de uma mulher dizendo que ela é puta e mal-comida ainda não conseguiu digerir o fato de que hoje uma mulher pode dar para quem quiser e quando bem entender. Há! Esse é o ponto. Ele é um machista, com toda a certeza. Pois ele está vendo que as mulheres finalmente conquistaram os tais direitos iguais reivindicados pelo feminismo e entre eles está ser dona do próprio corpo e fazer com ele o que bem entender. Mas ele não aceita isso. Ele acha que essa mulher emancipada é, por definição, vagabunda. Então é óbvio que ele não vai assumir a culpa – na frente de outros homens! – pela barbeiragem na qual se envolveu se ele pode culpar a mulher que está na calçada esperando para atravessar a rua. Ele parte do princípio de que essa mulher – ou de que toda mulher – é uma vagabunda mal-comida, seja ela quem for. Ele quer atingir o gênero inteiro. Queria saber o que ele teria dito se um homem estivesse na calçada. Bom, mas aí talvez o primeiro motorista não tivesse parado, porque ele quis ser educado com uma mulher... vejam só, quanta contradição. Gentileza e estupidez no mesmo episódio.

Esse é sem dúvida um assunto para psicanalistas, antropólogos, sociólogos. Mas também são situações cotidianas com as quais nos deparamos às vezes e que nos fazem pensar e questionar “o que leva uma pessoa a se portar assim”. Eu ainda acho que um cara desses tem algum problema sério em casa que não está conseguindo resolver. Ele, com o machismo dele, não é capaz de enxergar um palmo na frente do nariz e muito menos o que está prestes a crescer entre seus cabelos – se é que já não cresceu.

11 de dez. de 2010

eu tenho medo do mesmo

Descobri que é preciso mudar sempre. O mesmo é uma chatice - sim, eu tenho medo do mesmo. É preciso ter planos de curto e longo prazo. É preciso vislumbrar no horizonte algo diferente, alguma coisa que mexa com os alicerces da vida, sejam eles firmes ou molengas. O igual não tem graça. A mudança tem. É ela que dá o frio na barriga, o arrepio na espinha. E bom é viver assim, com aquele receio do que virá, com aquela sensação de "será que vai dar certo", com o não saber, o não conhecer, com o pisar em território desconhecido. Não é a mesma coisa que ser inconsequente e viver como se não houvesse amanhã. Ao contrário: me refiro a saber o que se quer, ou pelo menos desconfiar, e ir em busca, correr atrás, e fazer a transformação. Talvez seja um engano, mas como saber sem tentar? Sim, sim, um clichê e tanto. Imenso. Só vamos saber se fizermos, se tentarmos - ouvimos isso desde sempre. De tão batido, perdeu o sentido. E acabamos não fazendo nada, mesmo. Ou fazendo o mínimo. Desistimos por achar que não somos capazes, ou que é uma grande bobagem, um sonho que passou, que não temos mais idade pra isso, ou travamos diante do que os outros podem pensar... Assim o suposto clichê fica restrito às telas do cinema, às páginas dos livros, que parecem nos dizer algo, nos puxar ou empurrar, nos alertar... Muitas vezes, não passa disso e vira frustração.

Fazer o que se tem vontade, dentro ou além de nossas possibilidades, impor aos outros os nossos desejos e não deixar que nos impeçam ou nos dissuadam, e não permitir que a falta de mudança nos torne inertes e acomodados. Eu tenho medo do mesmo, e quero que ele vá para bem longe daqui. Para que meu amanhã não seja igual a hoje nem a ontem. Depende de mim. Eis minha mensagem de fim de ano. Que venha 2011.

11 de nov. de 2010

sobre como os beatles entraram na minha vida (ou pretexto para falar do show do paul)

Primeiro ouvi na Ipanema FM que tinha dado no ClicRBS que os empresários de Paul McCartney estariam em negociações para trazê-lo a Porto Alegre, aproveitando a passagem já confirmada por Buenos Aires. Pensei: “Humpf, que esperança”, e fui me ocupar com qualquer outra coisa. Dias depois, a conversa parecia um pouco mais séria. Na Itapema FM, deu que os caras estavam na cidade para visitar os estádios e hotéis e verificar se a estrutura era boa o suficiente para a grandiosidade do artista – não estou sendo irônica. Aí eu disse: “Humm, quantos dias para eles darem o veredicto negativo?”.

Pois é, mordi a língua. Logo o clã Sirotsky se reuniria com os tais empresários para assinar o contrato. Até a data já estava definida: 7 de novembro. Pasmei: “Uau, Paul McCartney em Porto Alegre, unbelievable”. Mas o segundo pensamento foi: “Decerto ele vai tocar só músicas da carreira solo”. Mordi a língua novamente: do setlist que ele vinha apresentando na Up and Coming Tour mundo afora, metade era Beatles. Quando finalmente divulgaram os preços dos ingressos, que nem eram tão absurdos quanto eu tinha imaginado, e que a pré-venda seria para assinantes de jornais da RBS – eu tinha feito uma assinatura de Zero Hora duas semanas antes –, só aí eu tive certeza de que eu iria ao show do Paul McCartney.

Mas a ficha custou a cair. Durante os cerca de 30 dias entre a compra do ingresso e o show, não tive frio na barriga, não fiquei nervosa, permaneci praticamente imune à histeria coletiva que se instalou em Porto Alegre, em grande parte embalada pela mídia massiva e até excessiva da RBS sobre o assunto (acho que exageraram na dose, mas, tratando-se de Sir Paul, é perfeitamente compreensível e perdoável). O máximo que fiz foi ouvir o mais que pude um CD gravado com as músicas do provável setlist que havia sido divulgado (e que se confirmaria totalmente, inclusive a ordem foi a mesma ), já que pouco conheço a carreira solo do moço e detesto ficar boiando em shows.

Tudo já se disse sobre o show e imagino que quem não foi está de saco cheio dessa conversa. Eu estaria. Mas sim, foi mesmo tudo isso. 55 mil pessoas não poderiam ser cúmplices de uma mentira, não teríamos como combinar “vamos dizer pra todo mundo que foi ótimo só pra tripudiar”. Unanimidade é coisa rara e dizem até que é burra, mas parece que o show do Paul McCartney foi para o topo da lista de exceções da velha máxima. Porque foi bom pra caralho. Beirou a perfeição. Deixou todos boquiabertos, bateu fundo no coração e na alma de quem estava lá, fez lágrimas escorrerem, sentimentos aflorarem... e aí já escorreguei pra pieguice e dela acho que não saio nunca mais quando se tratar do show do Paul McCartney.

Cada um tem seus motivos paga gostar de Beatles, do Paul, do John e até mesmo do George e do Ringo, que sempre me parecem meio esquecidos. Cada um tem uma história pra contar. A minha é assim: meu pai é professor de inglês. Ele dava aula em escolas públicas de Guaíba, onde morávamos, para os antigos primeiro e segundo graus. Uma das marcas registradas dele eram as musiquinhas, principalmente nas turmas infantis. Tinha de tudo, de Little Indian a My Bonnie Lies Over The Ocean. E tinha Beatles. Especialmente Love Me Do e Hello Good Bye, com seus versos repetitivos e fáceis, mas às vezes também Hey Jude e Help, bem mais complexas, e até Yesterday, se não me falha a memória. Ele gravava fitas K7 (oi?) a partir dos álbuns duplos de vinil (oi?) de capas azul e vermelha, que eram coletâneas do que de melhor o grupo fez ao longo de toda a carreira – o vermelho era da fase iê iê iê, e o azul, da psicodélica, da mais rock n’ roll.

Fui aluna do meu pai na quinta e na sétima série, mas antes disso as musiquinhas que ele dava em aula e que frequentemente tocavam na minha casa chamaram minha atenção. Sempre gostei de cantar, e quando gostava de uma música, não sossegava enquanto não decorava a letra, fosse em português ou em inglês. Na época – década de oitenta, tá? –, para conseguir as letras era preciso comprar o disco para ter o encarte ou então gravar da rádio e tirar de ouvido, coisa que muito fiz. Mas com Beatles eu tinha aquele tesouro do meu pai, os álbuns duplos, e certo dia decidi desbravá-los. Eu não sabia nada sobre o fenômeno que eles haviam sido, conhecia apenas meia dúzia de músicas, mas por algum motivo eu desconfiei que ali tinha bem mais do que Love Me Do e Hello Good Bye. Não demorou para eu constatar que sim, tinha muito, muito mais. E como até hoje, quando gosto de um disco, de uma banda, de um cantor ou cantora, ouço até cansar, eu devo ter gasto algumas agulhas escutando aqueles discos no três em um.

Logo descobri que os encartes dos álbuns, que continham as letras das músicas, estavam se deteriorando com tanto uso. Foi assim que, por vários dias, talvez semanas, me entretive ouvindo os discos e restaurando cuidadosamente os encartes. Alguns pedaços das letras tinham se rasgado e eu completava no papel, escrevendo a mão o que tirava de ouvido. Desse jeito acabei decorando as músicas e até mesmo as melodias, as notas, os riffs de guitarra, as interjeições, todos os detalhes de quase todas as canções. Até hoje acho que isso contribuiu muitíssimo para o aprimoramento da minha pronúncia no inglês, que é bem boa, modéstia às favas.

E foi assim que os Beatles entraram na minha vida. Nada pomposo, uma história singela, até. Foi unicamente a música deles que me cativou, e não o fato de eles terem sido os maiores de todos os tempos ou coisa do tipo. Nunca fui beatlemaníaca, estou mais para admiradora, alguém que curte, que se identifica, se emociona, se arrepia e se diverte com eles. Os Beatles me fazem lembrar minha infância e a sorte que tive de ter aqueles benditos álbuns dentro de casa. Mais tarde eu pude comprar vários CDs e continuar curtindo os Beatles, agora sim sabendo melhor quem foram aqueles quatro garotos, a importância que tiveram para toda uma geração e que continuam tendo, vide a enorme quantidade de jovenzinhos e de velhinhos no show do último domingo.

Para mim, o fato de Paul McCartney estar vivo e super na ativa era uma coisa, confesso, meio distante, meio, sei lá, nunca tinha parado para pensar no assunto. Vez ou outra lia notícias sobre ele, mas não tinha muita noção do que significava um beatle ter sobrevivido ao tempo e aos próprios Beatles para construir uma carreira irretocável como foi a dele, sem nunca decair, e aos 68 anos ser capaz de fazer um show como o que eu vi no Beira-Rio. A sensação de estar no mesmo ambiente de Paul McCartney, mesmo a muitos metros de distância, foi estranha e impactante. Fui ao show da Madonna em São Paulo e saí de lá com uma lista enorme de reclamações, assisti ao Eric Clapton no Olímpico e foi uma das coisas mais monótonas que já presenciei, e até mesmo os dois shows do meu ídolo-mor, Chico Buarque, vão para a lona perto do que fez Paul, e tudo isso considerando as diferenças óbvias de estilo. Como seria bom se todos os artistas – e veja que poucos podem sequer ser comparados a Paul McCartney – tivessem o entusiasmo, a simpatia, o bom humor, o fôlego que ele teve, a preocupação com a perfeição e em proporcionar o melhor espetáculo possível, de honrar o amor do público e fazer valer cada centavo investido. É um exemplo para toda a classe artística, goste ou não de Beatles e de Paul McCartney. Não há como ignorar.

Vou parar por aqui, porque até eu já estou me achando uma chata. O que queria mesmo era contar a maneira despretensiosa que os Beatles entraram na minha vida, e acabei falando um monte sobre o show. Agora me resta guardar na memória esse momento que foi mágico e... tá, chega.

9 de nov. de 2010

paul, I can't hardly express

Arram, eu fui.

Por enquanto, sigo sem palavras. Quero escrever, expressar, mas é tão difícil. Vai sair, vai sair. Só tenho que conseguir lembrar do show sem ficar com os olhos marejados.

(eu sei, eu sei que o título do post é de uma música de John, mas ele não deve se incomodar com o empréstimo)









Paulinha, Dani e eu :-)

9 de out. de 2010

batendo o cartão-ponto e tirando o mofo

Estou de malas prontas para o Rio de Janeiro. O voo sai em menos de duas horas. Estou em casa ainda, terminando as arrumações, vou antes almoçar, e então ir para o aeroporto. Resolvi sentar aqui rapidinho pra escrivinhar qualquer coisa. Há anos, pelo menos uma vez por ano, bato o cartão-ponto no Rio de Janeiro. Nem que seja um final de semana, um feriadinho qualquer. Sempre volto bem de lá. Espero dessa vez voltar muito bem. Arejada. Vou lá tirar o mofo, sentir o ar da primavera que ainda não deu bem as caras aqui nos pampas. A previsão promete tempo parcialmente nublado. O que, do sudeste pra cima, normalmente significa muito sol e nuvens dando uma trégua de vez em quando. Pra mim, não tem clima melhor. A minha brancura é tanta, mas tanta, que não sei se vou ter coragem de ir à praia. Vou ter que comprar um protetor fator 450. Se existisse. Vou dar uma caminhada na areia, claro. Um mergulho também, não resisto, amo entrar no mar. O biquini está na mala, assim como duas cangas. E as havaianas, as rasteirinhas, as blusinhas, os vestidinhos e as sainhas. Tudo tirado lá de cima do armário, porque ainda não deu pra fazer a tradicional troca, os blusões e casacos permanecem ao alcance da mão, enquanto as roupas de meia-estação e de verão, só subindo no mocho. Dessa vez, vou conhecer Niterói e Vila Isabel, dois passeios diferentes, novidades. E vamos à Lapa, claro. E conhecer o Bip Bip, famoso boteco de Copacabana com três mesas e nenhum garçom, mas com um clima espetacular, dizem. Depois, se der vontade, conto tudo. Para meus dezessete leitores. Bom feriado.

29 de set. de 2010

sou uma espécie em extinção

Deu no Diário Gaúcho. E pensar que o Hospital Nossa Senhora do Livramento funcionava há 33 anos. Sim, porque eu nasci lá. É deprimente ser uma espécie em extinção. 

Guaibenses estão em extinção

Sem o centro obstétrico da cidade, fechado há mais de um ano, Guaíba e quatro municípios da região estão transferindo gestantes para Porto Alegre

Aline Custódio  |  aline.custodio@diariogaucho.com.br
 
Na falta de uma instituição especializada, cerca de mil bebês deixaram de nascer em Guaíba, via Sistema Único de Saúde (Sus), nos últimos 13 meses. Interditado pela Justiça de Guaíba desde agosto de 2009, o único hospital que oferecia o serviço a uma população de 152 mil pessoas de cinco municípios, está prestes a ser fechado.

Quem confirma a informação é o próprio diretor do Hospital Nossa Senhora do Livramento, Arno Berger, nomeado pela Justiça no ano passado.

– O Livramento deverá manter as portas abertas somente até o Pronto-Atendimento (PA) 24 Horas de Guaíba se tornar o novo hospital da cidade – garante.

Desde a interdição, motivada por dívidas que ultrapassam R$ 16 milhões, a instituição de 66 anos deixou de atender casos obstétricos e cirúrgicos. Hoje, mantém apenas as internações clínicas – pediátrica e adulta – e uma equipe de saúde mental. Por dia, a média de pacientes internados não passa de 40.

Arno ainda reforça que, com uma receita mensal em torno de R$ 187 mil, não há como deixar em dia os salários dos funcionários.

– Nossa meta é pagar o que se gasta, mas os salários sempre ficam com um atraso entre 30 e 60 dias – afirma.

Maternidade só em 2011


Considerado como prioridade para a Secretaria Municipal de Saúde, o novo centro obstétrico funcionará na mesma área onde hoje já funciona o PA 24 horas da cidade.

A secretária municipal de Saúde, Liliana Altmayer, confirma que duas alas do PA serão reformadas para ganhar a maternidade, o bloco cirúrgico, a cozinha, a lavanderia e o centro obstétrico.

A prefeitura já tem R$ 1,5 milhão, procedente de repasses do Estado e do Conselho Regional de Desenvolvimento (Corede), reservados para iniciar a obra. O projeto arquitetônico está na avaliação final. As próximas fases são o levantamento do orçamento e a abertura da licitação (escolha da empresa que fará a obra).

Liliana acredita que o novo hospital estará concluído até o final do primeiro semestre de 2011.

– Nossa prioridade é a construção do centro obstétrico e da maternidade. Enquanto isso não ocorre, a prefeitura disponibiliza ambulância para as gestantes que estiverem em trabalho de parto – ressalta a secretária.

"Quero ter minha filha dentro do hospital"


Enquanto o novo hospital não sai do papel, as mais de 70 crianças que deveriam nascer por mês em Guaíba acabam vindo ao mundo em Porto Alegre. Será o caso da segunda filha da dona de casa Juliana Duarte Alves, 27 anos, moradora do Bairro Santa Rita.

Grávida de 35 semanas, Juliana faz o pré-natal no posto de saúde do Bairro Cohab, e pretendia ter o bebê na cidade em que mora e onde deu à luz a primeira filha, de três anos. Porém, sem alternativas, ela já pensa em outras maternidades.

Para se ter uma ideia da importância de uma maternidade na região, só no posto de saúde do Bairro Cohab, cerca de 18 novas gestantes chegam mensalmente ao local.

A falta de atendimento especializado causou problemas para Juliana, na semana passada. Com dores, ela precisou chamar o pai, que estava em Porto Alegre, para levá-la a um hospital na Capital.

– Me sinto insegura e nervosa. Gostaria que a médica, que me acompanhou durante todo o pré-natal, fizesse o meu parto. Até pedi para ela ir junto, mas será impossível – lamenta.

Juliana, inclusive, tem economizado para pagar o transporte até Porto Alegre no dia do nascimento da filha.

– Só rezo para que as dores cheguem durante o dia e fora do horário de fechamento da ponte (içamento da ponte sobre o Guaíba). Quero ter a minha filha dentro do hospital – desabafa a dona de casa.

Instituição era referência

Pelo menos outros quatro municípios tinham como referência o Hospital Nossa Senhora do Livramento, em Guaíba, na área obstétrica. Agora, as gestantes de Barra do Ribeiro, Mariana Pimentel, Sertão Santana e Eldorado do Sul realizam o pré-natal na própria cidade, mas só têm a Capital como alternativa para o parto via Sus. Em Sertão Santana e Barra do Ribeiro, as prefeituras disponibilizam transporte para os casos mais graves.

Números
Hospital Nossa Senhora do Livramento
Receita mensal
- R$ 87,5 mil – ambulatório e internação pelo Sus
- R$ 60 mil – convênio com a prefeitura
- R$ 40 mil – parcela mensal repassada pelo Estado (Fundo Estadual de Saúde), que será finalizada em janeiro de 2011

27 de set. de 2010

a parada das vacas


Boa oportunidade de fazer as pazes com Porto Alegre depois do post indignado sobre nosso belo rio escondido: a partir do dia 8 de outubro vai ter Cow Parade na cidade. A-do-ro.

Vi as vaquinhas pintadas em Buenos Aires na primeira vez em que lá estive, em 2006. Foi o máximo. Tirei várias fotos, como essa aí de cima. Que sacada teve quem inventou esse negócio. Porque é definitivamente a coisa mais inusitada que pode acontecer com um cidadão comum: andar pela rua e topar com uma vaca colorida, enfeitada, diferente, linda ou nem tanto, depende do gosto e do olhar de cada um.

Tem gente que não entende, fica se perguntando "qual é a moral", "pra que serve". Ora. Acho engraçado. E por acaso é para servir para alguma coisa? O melhor é não tentar entender. A Cow Parade, na minha maneira de ver, é uma ode à (in)utilidade da arte: as vaquinhas estão lá para provocar os sentidos, aguçar a curiosidade, fazer brilhar os olhos das crianças, fazer rir os velhinhos, obrigar os transeuntes apressados a parar e olhar, colocar tempero e cor em nossa rotina tão absurdamente mergulhada na mesmice. As vacas são esculturas, são obras de arte misturadas à sujeira urbana, à feiura ou à beleza da cidade, visíveis a toda e qualquer pessoa, não precisa entrar em museu, comprar ingresso, muito menos entender de arte para apreciar. Gosto da arte acessível. Algumas vacas da Cow Parade até podem trazer certo rebuscamento nas propostas dos artistas, podem conter mensagens subliminares, ter um cunho de protesto ou alertas para a desigualdade social ou whatever. O que importa é que, independente da leitura de cada um, elas atingem o propósito de instigar, de entreter e de deixar a vida da gente mais leve.

Porto Alegre será bem mais interessante nos próximos três meses.

Mais infos em http://www.cowparade.com.br/poa/.

15 de set. de 2010

maldita seja

Maldita seja a cidade que esconde de seu povo o que tem de mais bonito. Às vezes eu não entendo porque não consigo ser apaixonada por Porto Alegre. Gosto, mas não amo. Falta alguma coisa. Não é culpa da cidade. Não sei bem de quem é  a culpa. E acho que, a essas alturas, nem interessa mais. O que interessa é que ele está ali. Sempre esteve. Mas, por algum motivo, não o vemos, pelo menos não da maneira como seria possível, como seria a ideal. Porto Alegre poderia ter uma orla. Ciclovias, calçadões. Nós poderíamos conviver diariamente com o Rio Guaíba. Assim, de pertinho, intimamente, chegar perto dele. Entrar nele talvez seja pedir demais (será?), mas não se trata disso.
Hoje, lá pelas 17h30, vindo de carro pela freeway, já próxima da ponte do Guaíba, eu vi o rio. Ele tinha uma cor prata indescritível, a paisagem era magnífica, mas eu só pude admirá-lo por uns poucos segundos, arriscando provocar um acidente, pois estava dirigindo. Nesse momento me bateu uma indignação. Fiquei pensando que cada vez que vejo o rio é como se fosse a primeira vez, a beleza dele me estarrece e ao mesmo tempo me causa estranheza, esse rio pertence à minha cidade, mas não pertence às pessoas, não me pertence.
Espero sinceramente que o governador do estado e o prefeito de Porto Alegre que forem eleitos esse ano FAÇAM finalmente alguma coisa e DEVOLVAM aos porto-alegrenses o Rio Guaíba. Usem a Copa do Mundo de Futebol como desculpa, ou como motivação, não importa. Mas façam acontecer e me deem motivos para amar Porto Alegre, para ter orgulho de Porto Alegre, para eu poder dizer a um amigo de fora "Vê que linda a cidade que escolhi pra morar?", para eu poder dizer BENDITA SEJA Porto Alegre, a cidade onde eu vivo, pois ela tem um rio que é de todos, um rio que é meu.

12 de set. de 2010

insignificante, tudo

e eu me preocupando com a fatura do cartão de crédito no dia quinze e com aquela roupa que vi na vitrine mas que é muito cara e nem tenho onde usar e que filme vou tirar na locadora nesse final de semana chuvoso e será que vai fazer sol essa semana porque afinal a primavera vem vindo e daqui a menos de um mês vou ao Rio de Janeiro mas se o tempo não for bom não vou poder fazer as coisas que planejei então eu rezo para que faça calor e sol e essas coisas que deixam o Rio mais bonito do que já é porque o Rio é bonito até em dia de terremoto só que não tem terremoto no Rio nem no Brasil pelo menos é o que dizem mas na verdade parece que teve uns tremores outro dia não sei onde mas eu não senti nada aqui em Porto Alegre essa cidade que agora está tomada por cavaletes com propaganda de políticos que querem se eleger e principalmente se reeleger porque eles não sabem fazer outra coisa na vida é o que eu acho detesto eleição pra deputado porque são sempre as mesmas caras mas afinal o que importa nada importa é tudo uma grande bobagem como eu aqui agora fazendo backup dos arquivos do computador porque se der pau no computador eu vou ter uma cópia dos meus arquivos eu fico achando que não posso viver sem eles que se eu perder meus arquivos vai ser a mesma coisa que perder um braço ou uma perna mas eu sei que se eu perder meus arquivos eu vou continuar vivendo e tudo vai ser igual como sempre foi porque ninguém morre só porque perdeu alguma coisa material mesmo que seja virtual como são os arquivos de computador mas afinal só vemos que nada dessa merda toda importa quando perdemos alguém importante na nossa vida principalmente quando é a mais importante de todas e de repente essa pessoa não está mais aqui para nos confortar nem sorrir nem perguntar como foi nosso dia não deve existir nada nada nada mais dolorido que isso e é por isso que hoje eu acho que nada mais importa e que tudo é tão pequeno mas tão pequeno que eu fico me sentindo um grãozinho de areia insignificante

para Paulinha

25 de ago. de 2010

em respeito à memória de renato russo

Ontem o Multishow fez o desfavor de "homenagear" o Legião Urbana colocando o Vitor e Léo (quem?) e a Claudia Leitte (ã?) cantando a música Pais e Filhos. Putaquemepariu. Foi um dos shows do Prêmio Multishow de Música Brasileira, que, aliás, já teve dias melhores. Mas enfim, que o Multishow abra espaço para o Luan Santana (hein?) e o Fiuk (o mundo se contentaria só com um Fábio Junior, nénão?), eu até entendo, agora fazer isso com o Renato Russo, avápá... vergonha alheia, vergonha, vergonha.
Pais e Filhos foi e talvez ainda seja o maior hino adolescente da história. Eu ouvia essa música na minha adolescência e ela falava diretamente comigo, era feita pra mim. Pra mim e pra todos os que tinham a minha idade no Brasil inteiro. O Legião e o Renato Russo tinham isso, falavam a língua do público. Fizeram coisas maravilhosas. Tem gente que acha depressivo. Eu acho autêntico. Visceral. Legião é rock, é poesia, é crítica social, é soco no estômago. Que falta faz tudo isso na música brasileira de hoje.
Agora mesmo resolvi ouvir o CD Legião Urbana V, aquele da capa branca com letras douradas. Tenho ele até hoje. Está escrito no encarte: 17/10/1992. Dezoito anos. Uau... Provavelmente ganhei de aniversário, não lembro. Mas lembro que o escutei infinitas vezes. Ainda sei as letras decor. Até mesmo a da faixa número 2, Metal Contra as Nuvens, que tem mais de 11 minutos de duração. Cantei ela inteirinha no show que fui no Gigantinho, em 1994. Na época tive a nítida sensação de ser a única pessoa que sabia cantar aquela música. Acho que poucos tinham paciência de ouvi-la. Eu tinha. Sabia até mesmo as canções instrumentais, acompanhava com a mente cada nota, cada acorde. Eu era assim na adolescência, ouvia um mesmo disco até furar. Mas não furou, tanto é que esse me acompanha há longos dezoito anos.
Esse disco, o Wikipedia acaba de me contar, reflete a crise econômica causada pelo plano Collor e a dependência química de Renato. Interessante saber disso agora. Porque na época eu não me dava conta. Mas me emocionava, mesmo não entendendo bem o que as letras significavam. Não são letras fáceis. Duas delas me chamaram particular atenção hoje: a música-para-suicídio Vento no Litoral e a meiga, alto astral, romântica e bem-humorada O Mundo Anda Tão Complicado. Uma contraposição perfeita. Me fizeram ir às lágrimas indagorinha.
Renato Russo morreu uns anos depois. Não lembro bem o que senti quando soube. Mas foi estranho porque menos de dois anos antes eu o tinha visto muito de perto, nesse show do Gigantinho. Um show histórico, aliás. Histórico pra banda e pra mim também. Fomos eu e o Sandro, meu amigo, meu parceiro de momentos inesquecíveis como esse que foi ver Legião Urbana em Porto Alegre. Algumas pessoas viram Cazuza, outras viram Elis Regina, outras viram Cássia Eller. Eu vi o Renato Russo. Ídolo.
Pois tudo isso para dizer que as músicas do Legião continuam tocando adolescentes e adultos até hoje, mas se o Multishow insistir em colocá-las na boca de artistas de quinta categoria (e eu acho que "artistas de quinta categoria" é até elogio para os charlatões em questão), vai contribuir para que o legado de uma das maiores bandas brasileiras de todos os tempos seja confundido com música de quinta também. Ora, faça-me o favor, Multishow!

7 de ago. de 2010

se eu morasse em Amsterdam

Se eu morasse em Amsterdam
Teria uma bicicleta preta
E andaria de motoca
Só nos dias de dondoca

Se eu morasse em Amsterdam
Falaria inglês com fluência
E conversaria na língua pátria
Só com amigos de infância

Se eu morasse em Amsterdam
Viveria à beira de um canal
Haveria flores em minha porta
Onde esperaria o jornal

Se eu morasse em Amsterdam
Nunca daria chilique
Se visse o povo na rua
Muito louco de haxixe

Se eu morasse em Amsterdam
Talvez me chamasse Ana
E teria uma grande amiga
Chamada Maria Joana

Se eu morasse em Amsterdam
Seria amiga da polícia
E frequentaria a zona
Mas não me interprete com malícia!

(Fernanda Vier em duvidoso momento de inspiração poética)