10 de jun. de 2010

tem que ir

"O quê? Você foi a Amsterdam e não visitou o museu da Anne Frank?"

Pois é, passei essa, algum problema?

Eu mesma vivo fazendo isso, mas tenho tentado me policiar. O fato é que é quase irresistível querer que os amigos façam e vejam o mesmo que você. Esquecemos que a nossa viagem é diferente da viagem deles. A realidade, as vontades, os gostos, tudo é muito diverso, por mais afinidade que se tenha.

Analisemos o típico caso do "tem que ir". No fundo, o seu amigo quer que você passe pelo mesmo que ele passou. E, muitas vezes, a experiência dele não foi das mais agradáveis. Você “tem que ir” porque ele não quer se dar mal sozinho, ou não quer reconhecer que fez programa de índio e acaba “indicando” a roubada. Não é fácil assumir os próprios erros, ainda mais quando estão envolvidas boas somas de dinheiro e as suas preciosas férias.

Aconteceu conosco em Búzios. Vários amigos recomendaram que fôssemos a Arraial do Cabo, que é ali perto. Lá fomos nós. As águas são realmente cristalinas, mas o passeio de barco foi uma droga. Quando tudo acabou, lamentamos o dia perdido em um programa mais ou menos.

Então o negócio é desencanar e não entrar nessa do "tem que ir". Tem que ir para ver que é ruim com seus próprios olhos? A internet está aí para informar e advertir. Pesquise antes – em sites isentos, por favor – para não cair em armadilhas.

E aí chegamos ao ponto. A Torre Eiffel.

De tudo o que fiz em Paris, o mais "tem que ir" era subir a Torre Eiffel.

A primeira vez que eu enxerguei a Torre foi incrível. Foi logo no primeiro dia, de uma das pontes do Sena perto do Louvre. Dei um gritinho e senti o frio na barriga: estou em Paris. Sensação maravilhosa. Depois a vi várias outras vezes, de perto e de longe, porque é raro algum ponto de Paris de onde não se possa ver um negócio daquele tamanho. Ela está quase sempre lá, acompanhando nossos passos.


Mas e subir?

Bom, eu estava decidida desde sempre que subiria. O Fredo, nem tanto. Ele bem que tentou me dissuadir, mas não conseguiu. Fora de cogitação, “tem que ir”. Escolhemos uma segunda-feira de manhã, fugindo estrategicamente do final de semana. Chegamos o mais cedo possível, que não foi tão cedo assim porque ficamos bebendo vinho rosé na noite anterior e acordamos de ressaquinha.

Vou pular a parte em que ficamos mais de meia hora na fila errada (na que não tem elevador e os turistas pagam 5 euros para subir 400 degraus - sinalização, definitivamente, não é o forte de Paris). Uma vez na fila certa, precisávamos decidir se iríamos até o último nível, a mais de 300 metros de altura. O Fredo não estava nem um pouco a fim. Eu não estava completamente certa. Mas o "tem que ir" falou mais alto. Vou subir na Torre Eiffel e ficar no segundo andar, SÓ a 115 metros de altura? Não. Quero o topo.

Naquele dia, o céu de brigadeiro não podia ser mais perfeito para ver a cidade do alto. Só que o sol e o calor estavam implacáveis – em plena primavera, demos a sorte ou o azar de pegar temperaturas de verão em Paris. Com isso, a fila, que já é lenta e cansativa, ficou ainda pior. Levamos em torno de 1 hora e meia só para comprar os tickets, mais meia hora até chegar ao saguão do elevador, tudo isso sob um sol escaldante. No tal saguão espremeram-se dezenas de crianças e adultos, e o Fredo, que é meio claustrofóbico, quase desmaiou. E não é que o elevador resolveu dar pau bem nessa hora? Siiiiim, em Paris os elevadores também pifam. Mas ninguém arredou o pé: essa geringonça vai ter que funcionar! E funcionou, depois de mais uns vinte minutos esperando. Ar-condicionado? Nem em sonho.

Quando finalmente chegamos ao segundo andar, a vista levou um tempo até chamar nossa atenção. Estávamos cansados, queríamos ir ao banheiro e sentar um pouco depois de tantas horas de pé. Imagine o humor do Fredo a essas alturas. Eu, diplomática como quase sempre, tentava ver o lado bom da situação e me entusiasmar, afinal, estava na Torre Eiffel.

Depois de um rápido descanso, fomos disputar nosso lugar ao sol (literalmente) para curtir a vista e tirar fotos. Foi preciso enfrentar hordas de gente de todas as nacionalidades para chegar aos pontos que poderiam dar boas fotos. Na minha opinião, sobe gente demais naquela Torre. E isso ficou ainda mais evidente quando decidimos pegar o elevador que nos levaria ao topo: devia ter umas 500 pessoas na fila. Ou seja, se havia fila para subir, claro que também haveria para descer, e depois mais uma para ir do segundo andar ao térreo. Tô fora.

Pois é, resolvemos não subir. Pagamos o ticket de 13 euros (o do segundo andar é 8 euros) e jogamos dinheiro fora. Não dava pra encarar mais aquela fila. O "tem que ir" tinha chegado ao limite. Já me disseram que o legal de subir é mais pela emoção da subida mesmo, porque tudo fica pequenininho demais daquela altura e bom mesmo é ver Paris do segundo andar. De fato, a vista dali é belíssima. As fotos estão aí para comprovar.



Agora, se vierem me perguntar se eu acho que a Torre Eiffel é programa obrigatório, já sei o que vou dizer:
Ver a Torre de longe é muito legal, faz você sentir que está MESMO em Paris, e você não precisa ir a nenhum lugar muito específico para vê-la.
Ver a Torre de perto (mas não muito de perto) é muito legal também, especialmente da Place du Trocadéro.
Ver a Torre ao anoitecer, quando ela se ilumina, e o show de luzes (que dura uns 5 minutos) é imperdível.
Você pode ter vistas maravilhosas de Paris sem sofrer tanto: do Arco do Triunfo (a que eu mais gostei), do terraço do Centre Pompidou, da Sacré-Coeur. E certamente de outros pontos que eu desconheço.
Sobre subir a Torre, decida sozinho. Mas eu é que não vou dizer "tem que ir".

E se você quiser uma cidade bonita DE VERDADE vista do alto, vá a Praga, na República Tcheca!


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Elucubre vc também!