10 de fev. de 2010

uma barata a menos no mundo


Tem uma barata no banheiro do escritório. No banheiro que usamos como uma espécie de copa-cozinha-área de serviço. Nesse exato momento ela está ali, fuçando a louça da pia.

A culpa é minha, quem manda querer ser elegante comendo banana? É que eu tenho a mania de comer banana com garfo, picada em rodelas numa tigela de vidro. O problema é que a tigela é prontamente depositada sobre a pia, ainda cheia de resíduos da fruta. Só penso em lavá-la no final do dia, ou, pior, na manhã seguinte.

É, eu dei muito mole pra essa barata. Lá está ela. Lambendo os restos da minha banana.

Elas até que são raras por aqui, as baratas. Em quase quatro anos, essa deve ser a terceira que aparece. Também, com o calor que tem feito, elas estão se proliferando como nunca. Submergem de todos os buracos da cidade, escalam paredes, canos, saídas de ar. Sei lá como essa veio parar aqui. Barata não tem medo de altura, nem de escuro. Nem de cheiro ruim.

E agora, o que eu faço? Grito? Hoje em dia eu não tenho mais o pânico de antigamente, não berro, não subo na cadeira nem saio correndo. Já fiz muito isso, mas não mais. Ora, sou adulta. Sei que é ela quem deve estar morrendo de medo de mim. Sou muito maior do que ela. Posso matá-la em um décimo de segundo. Ela deve ter conhecido milhares que morreram assim, assassinadas por alguém como eu.

O problema é o nojo. De aranha eu tenho medo, porque tem veneno, e aquelas perninhas, e... Mas pelo menos aranha não se cria em esgoto, não curte um cocô. Que eu saiba. Até lagartixa eu aprendi a respeitar. Me convenceram que ela se alimenta de insetos, então antes uma lagartixa do que um monte de bichinhos com asas em volta dos meus lustres. E elas também não andam sobre excrementos, até onde eu sei.

Mas barata não. Essas são da pior espécie possível. Feias, imprestáveis. E não me venha com aquele papo de equilíbrio ecológico. Eu duvido - DUVIDEODÓ - que a natureza ia sentir falta das baratas. Bem capaz.

Voltando à barata do banheiro. Se eu tentar matá-la, ela vai fugir, e eu vou ter que correr atrás dela. Coisa desagradável. Além de arriscada! Posso tropeçar, cair, quebrar alguma coisa. E com certeza vou gritar. Muito. Aí os vizinhos podem estranhar, vão bater aqui, perguntar se está tudo bem. Melhor não. (ok, eu acabei de dizer que os gritos eram coisa do passado, mas se houver perseguição não tem jeito, vai ter sonoplastia).

E se eu resolver realmente acabar com a raça dela, não posso esquecer que estou usando uma rasteirinha. Como vou dar a necessária chinelada? Nem é nova a sandália, mas é uma das que eu mais gosto. Estou no trabalho, não costumo trabalhar de havaianas.

E mesmo se eu tivesse um par de chinelos aqui, só de pensar na chinelada me vem à cabeça aquele "creck" inevitável, o barulho da morte da barata, a casquinha se quebrando, a gosma se espalhando, e grudando na sola da minha rasteirinha!

TEM que haver outra maneira.

Claro.

Marido.

Nessas horas, e em muitas outras, eu sou a mulher mais mulherzinha que existe. Estou sozinha no escritório, já passa das dezenove, o Fredo está vindo me buscar. Vou convidar para dar uma subidinha. E está tudo resolvido.

Pá!

Meu herói. Uma barata a menos no mundo.

Um comentário:

  1. AH...SEMPRE OS MARIDOS PRA NOS SOCORRER QUANDO AS BARATAS APARECEM OU QUANDO FURA UM PNEU! E SEMPRE A AMIGA ESCRITORA PRA COLOCAR ISSO EM PALAVRAS NUM TEXTO TÃO DELICADO E COLORIDO. MIL BEIJOS

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Elucubre vc também!