20 de jan. de 2010

hóspedes indesejáveis


Todo verão eu recebia uma visita.
Elas vinham sem avisar, mas eu sempre sabia que viriam. Que chegariam junto com o sol e o calor da estação.
Ficavam por ali aqueles meses. Não davam trabalho. Os amigos comentavam: ó, que bonitinhas! Tão charmosinhas! E eu dizia: fofas, né? Mas logo, logo elas vão embora.
E iam mesmo. Nem davam tchau.
Mas no último verão foi diferente. Elas chegaram menos sorrateiras do que de costume. Estavam maiores, mais espaçosas. Eu sentia a presença delas. Antes não, eu só lembrava quando os outros falavam. Agora elas estavam ali, bem embaixo (e em cima, e em volta) do meu nariz. E davam sinais (!) de que não iriam embora tão cedo.
Veio o inverno e elas continuaram inertes. De visitantes sazonais, transformaram-se em hóspedes indesejáveis. Sabe aqueles "amigos" que chegam na sua casa dizendo que é só por uns dias, e de repente estão comendo a sua comida e deixando a louça suja na pia? É como eu me sentia. A briga ia ser feia.
Busquei ajuda de um especialista. Depois de uma rápida análise, ele explicou o que, intuitivamente, eu já sabia. Elas não eram mais as inofensivas visitantes de verão. Sem saber dizer se foram promovidas ou rebaixadas de cargo, diagnosticou:
- Não são mais sardinhas. São melasmas.
Melasmas!
Então as inocentes pintas marrons que davam um charme extra à minha cara de verão tinham se transformado em melasmas!
Prognóstico: se eu não me cuidar, elas vão se multiplicar feito coelhos e crescer rápido como leitões. Nunca mais, a partir de agora e até o último dia da minha vida, vou poder sair na rua com filtro solar menor que 60. Na praia ou piscina, chapéu com aba de sete centímetros no mínimo.
E isso só para elas não acharem que podem se esparramar à vontade. É preciso começar já o processo de despejo. Sim, colocá-las na rua da amargura, sem dó nem piedade. Não é o que se faz com hóspede abusado? As danadinhas despertaram minha ira. Agora vão ver só uma coisa. Vou transformar o hotel cinco estrelas no lugar mais inóspito para se viver.
Está aberta a temporada de guerra às melasmas.

13 de jan. de 2010

conversa de mulher


Conversa entre amigas em um restaurante japonês. Todas com mais de 30, casadas ou comprometidas, sem filhos. Não é um encontro frequente - duas delas estão de passagem pela cidade.

O papo começa com o assunto relacionamento. Óbvio. Uma delas está meio mal-humorada porque brigou com o namorado. O motivo? Diferenças. Que dúvida. Sempre difíceis de aceitar.

A conversa continua. Racismo. Uma delas diz que não é racista, mas que não ficaria com um negro, não sente atração. Nem com japonês, não acha bonito. As outras defendem, dizem que não tem nada disso não, vai que gosta, se apaixona, e aí? Preto, amarelo, vermelho, as convicções vão todas por água abaixo se pintar o amor. Melhor mudar de assunto.

O sushi está ótimo, as sakerinhas de morango também. Restaurante lotado. Na mesa ao lado, uma espécie de convenção de promoters: todas tão iguais, montadíssimas, magras, altas, louras e bronzeadas! Preconceito com as meninas? Sei lá, mas que deu vontade de perguntar qual era o produto que elas estavam distribuindo na "blitz", ah, isso deu.

Em papo de mulher, nunca falta um veneninho.

E nem dicas de beleza. O conversê segue: uma quer saber, afinal, qual o segredo das belas madeixas da outra. Cremes, tratamentos, cabeleireiros, ampolas, tesouras, lua nova... só faltou calendário pilomax.

O que ensejou outro assunto: Twitter. Aquele foi o dia da tag #twittealgomuitoantigo. Calendário pilomax, claro. Três twittam frequentemente, uma não. Queria entender como é. E putz, como é difícil explicar o Twitter. Meia hora no mínimo.

#twittealgomuitoantigo continuou rendendo boas risadas. Croco. Embaixada de Marte. Bunker. Santa Mônica. Pichulym. Kenwood. Kras. Company. T5. Tênis com linguão. Calça semibag.

Ombreiras.

E a moda dos anos 80, era brega ou não era?

E como saímos disso para o sucesso dos empreendimentos do Grupo Zaffari? E para o bairrismo do povo gaúcho? E para o domínio da China na economia mundial?

Até onde pode ir uma conversa de mulher.

Muitas e boas e altas risadas depois, hora de ir embora. Pagamos a conta, pedimos nossos carros aos manobristas e aproveitamos a espera para tirar fotos. Momento devidamente eternizado e, em breve, publicado internet afora.

Queria saber sobre o que conversam mulheres adultas, bem-resolvidas e desacompanhadas em uma mesa de bar? Taí uma amostra. Nunca falta fofoca, sexo, dieta, trabalho, casamento. Também pode pintar dinheiro, política, economia. Viagens, compras, liquidação. Drogas. Moda. Homossexualismo. Culinária. Pornografia. Cinema.
Tudo regado a muito palavrão e gargalhada.

Futebol? Passo.